Está difícil encontrar quem se interesse pela Lua. Não pela sua conquista, coisa de astronauta. Tampouco interesse utilitário, ainda que legítimo. Tipo lavoura, se está na hora de plantar. Ou só para saber se vai dar praia amanhã. Mas Lua. Simplesmente Lua. Vagabunda, patética, indefesa, como a chamou o poeta. Minha branca e pequenina Lua. Lua ociosa, sem préstimo.
Foi essa Lua que a moça me mandou espiar. Cabeça antiga, a dessa moça. Ou aluada. Numa hora dessa, sorrindo manso, em paz. Parece boba. Lunática. O Brasil empolado nessa catapora e ela me convidando a olhar pro céu. Mesmo sem Lua, vale a pena. Por uma nesga que seja, na área de serviço. De dia ou de noite. Até sem uma única estrela.
E falo do céu firmamento. Limpa os olhos, que nem colírio. O prazer de esticar na grama em boa parte vem daí. Os olhos pregados no céu. A Lua estava linda naquela noite. E era Lua nova. Novinha em folha, como escrevi. Lua nova, Brasil velho. Essa inapetência que nos segura a vontade de olhar lá fora. Cumpre vencê-la. Tirar o olhar do chão. Da lama. Olhos altos. Mais altos que os faróis do carro. Nem que só por um minuto.
Pois se alarga mesmo o horizonte. Até o horizonte cultural. De São Paulo, me vem, com uma palavra amável, a revista Lua Nova. De cultura e política. Título tão bonito, pode ser também de poesia. A poesia fica bem em qualquer lugar. Sobre a cultura e a política, será como o luar. De Belo Horizonte, recebi um puxão de orelha. E uma palavra irônica. Como eu, a moça anda no mundo da Lua, diz o meu catão. Onde é que já se viu ver Lua nova?
Entre o Sol e a Terra, em conjunção, ela é invisível. É o que confirma o astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão. Diz-se que a Lua se acha aí na sizígia inferior. Nasce às seis da manhã, passa pelo meridiano ao meio-dia. Às seis da tarde, some. É o novilúnio. Com este bonito nome e invisível. Sim, para quem não merece. Para o Brasil velho. Não para a moça dos olhos novos. E da Lua sempre nova. Poética ou não, tem essa licença. De nascença. E a conserva por merecimento.
