Tenho um amigo que só disputa o último lugar. É o mais confortável. Tem poucos competidores e é fácil de ocupar. Ninguém o quer. Inscrito num concurso, ou numa reles fila de banco, se lhe cabe a palma do lanterninha, ótimo. Não deixa de ser uma vitória, na linha do seu original critério. Nunca foi candidato a nada. Nem a tirar pressão nesses postos ambulantes que espalham o medo entre os cidadãos pacatos e os pobres.

Um mal secreto, não o do soneto, mas o de qualquer doença, é sempre um fator de tranquilidade. Quem não sabe não teme. Como o diagnóstico da pressão alta não é seguido de tratamento ou ajuda, pra muita gente simples é só alarme. A viúva gorda e patusca, que tem um cotidiano insosso, é convidada a cortar o sal de seu feijão com arroz. O poder público no Brasil se esmera em requintes de maldade que se apuram com os séculos.

Pois é esse amigo que, passada a eleição, se transforma numa irmã Paula. Percorre aflito a lista dos candidatos. Dos vitoriosos nem quer ouvir falar. Cata, ansioso, os derrotados. E é a eles que se dirige. Descobriu um candidato a vereador na Leopoldina que não teve nem um único voto. Até aí, nada de original. Foi visitá-lo. O fantástico é que teve também vários votos anulados. Todos dados a seus concorrentes, vagamente misturados com três ou quatro letras de seu nome.

A dor moral da derrota. A desilusão é tanto maior quanto mais firme é a fé na vitória. É aí, nesse coração destroçado, que o nosso apóstolo vai lançar a sua palavra de conforto. Tem uma conversa irresistível. Um bálsamo. Sincero e convincente, prova por a + b que é uma glória sair derrotado das urnas. Uma honra. A vitória é uma impostura. Uma vergonha. Depois, a derrota de hoje anuncia a vitória de amanhã. É uma espécie de ascese.

Uma derrotada como a Benedita está claro que não precisa dessa terapêutica. Perdeu no olho mecânico. Deixou por toda parte o eco e a cara de sua efusiva presença. Sua campanha é uma hégira, impregnada de lições positivas. O vitorioso César Maia, por sua vez, mostrou-se obstinado na sua corrida de obstáculos. O Marcelo por seu turno saiu revigorado. E o Brizola? Fora do páreo, há quem diga. Mas ele é como a onça da fábula. Se arrotar três vezes, aí, sim, está morto. Ou veja, vivíssimo.

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