Como eu, muita gente está com este engasgo. Desconforto que arranha por dentro. Maltrata o esôfago da alma. A mucosa cívica, ouriçada, empola e sangra. Por mais que dê tratos à bola, não deslindo o mistério. Precisava acontecer? A princípio foi um cisco no olho. Hoje é uma felpa enfiada debaixo da unha. Uma só, não. Dez felpas nas dez unhas. Doem-me todas as esquinas do meu ser.
E é tudo em consequência da mesma síndrome. Deus que me perdoe, mas a esta altura da vida, às vezes me bate que não é justo fazer isto com a gente. Os que já fomos moços e sofremos as doenças infantis de nossa condição merecíamos ser poupados. Afinal, somos brasileiros há mais tempo. Somos anteriores ao antibiótico. Anos e anos sem o remédio constitucional. Uma purgação sem catarse.
Quando era tempo de tomar jeito, sobrevém essa fossa. Nos dois sentidos, o psicológico e o outro, de cloaca. Diante da televisão horas a fio, a náusea me paralisa. Tento esquecer, busco uma leitura. Em vão. Olho pela janela. O sol empalideceu. Esta noite, ou não aparece, ou corará de vergonha. A lua. Estremecem os montes. Ó, montanhas de Minas, que mesquinho camundongo escondes no teu silêncio? Desembucha, Minas. Vomita, Brasil!
Que tudo corra nos conformes jurídicos, muito bem. Mas que corra. Se tentarem tapar a saída natural, não é preciso ser profeta para ver, olhos arregalados, o que vem aí. Nunca se viu situação igual. Não há precedente. O brasileiro, lá diz o relatório da ONU, é um povo subnutrido. 72 milhões estão mal alimentados. 50% das crianças não comem segundo a sua fome. É a FAO quem o diz. E a OMS reitera.
A continuar por este caminho, seremos em breve um país de anões. Em cada cinco brasileiros, um o nanismo segura abaixo da estatura mínima. Não haverá lona bastante grande, nem circo amplo bastante, para em breve recolher-nos a todos. Chicanistas, os ratos engordam. Não é hora de rabulice e chicana. Direito, sim. Mas a fedentina desse esgoto não pode nos transformar num povo de anões morais. Afinal, somos uma nação ou uma cloaca?