Ano novo, nova moeda. É o que vai acontecer na Argentina. Sai o austral, de astral baixo, e entra o peso de volta. Um peso: mil austrais. Eis aí: até que enfim a Argentina é o Brasil amanhã. Aqui, volúveis, já em 1942 mudamos do mil-réis para o cruzeiro. Grandes razões? Que nada! Nossas cédulas eram fabricadas em Londres. Um belo dia, em plena guerra, não havia nem uma notinha de reserva na Casa da Moeda. Foi um deus nos acuda.

Decretado o feriado bancário, o jeito foi rebatizar a moeda. O nome cruzeiro andava no ar. Bastou uma penada, zás-trás. Que é que a ditadura não pode? Tudo muda neste mundo, mas aqui muda tudo muito mais. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Até parece que o Camões tinha diante de si o Brasil de hoje. Vejam: “Continuamente vemos novidades, / Diferentes em tudo da esperança”.

Em 1965, o cruzeiro virou cruzeiro novo. Mal voltou a ser cruzeiro só, sem o novo, e sobreveio o cruzado. A essa altura, a inflação acelerada já podia competir na Fórmula 1. Cruzado novo, outra vez cruzado e finalmente de novo cruzeiro. Apesar de derivados de cruz, os novos nomes deram em nada. Por quê? Porque não temos moeda. A França, por exemplo, criou o franco novo uma única vez, depois da guerra. Deu um nó na cabeça dos franceses. Anos depois ainda havia velho em Paris sem entender bulhufas daquela mágica besta que o De Gaulle inventou.

Aliás, a guerra é fonte de mudanças de toda sorte. Basta ver quantos países mudaram de nome com a descolonização. E agora é a URSS que anda à cata de nome novo. Se a URSS pode, por que não se pode trocar o nome do Brasil? É o que me pergunta um leitor. Até a Comunidade Europeia quer ser rebatizada. Brasil lembra o desmatamento e é de mau agouro. Por que não voltar aos primitivos nomes cristãos? Terra de Santa Cruz, ou de Vera Cruz. Ou até Terra dos Papagaios.

Pois saiba o leitor que essa mudança já foi atribuída ao Diabo. Quem, senão o Diabo, podia preferir ao santo madeiro um simples pau de tinta? A versão está em João de Barros, como está em outros cronistas. Aliás, quando o nazismo andava em alta, não faltou aqui mesmo a tese de que foram os judeus que fizeram a troca. Os cristãos-novos, como Fernando de Noronha, detinham a princípio o monopólio do pau-brasil. Vejam até onde vai o fanatismo antissemita. Mas agora o que interessa é saber se vale mesmo a pena mudar. Às sugestões e depois, claro, a mais um plebiscito!

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