Fui correndo a Belo Horizonte e no avião, para distrair o espírito, para fugir do velho e triste caminho das Gerais, comecei a contar o número de vezes em que numa publicação se emprega o gentílico “norte-americano”. Eram todos textos traduzidos do inglês, originariamente publicados nos Estados Unidos. Pena que não possa reproduzir aqui a minha estatística. Um monte de inúteis “norte-americanos” entulhava cada página, cada coluna, cada parágrafo.

Claro que no original o autor não escreveu “o estudante norte-americano”, ou “o pesquisador norte-americano”. Mas o tradutor não perdoou e meteu sempre o elemento “norte”, seguido do competente hífen. É um assuntinho, sei que é, mas é também um desperdício, sobre ser uma bobagem. Senão vejamos. As cinco letras de “norte” mais o hífen somam seis sinais. Na lauda, são seis toques, o que implica perda de espaço e de tempo.

No rádio e na televisão chega a dar nos nervos a obsessão com que todos dizem “norte-americano”, com gasto inútil de saliva. Tendo tido a primazia da independência no hemisfério, os Estados Unidos oficialmente se chamam “da América”. Não “da América do Norte”, que aliás inclui o Canadá, o México, o Caribe, etc. Sim, americanos somos todos nós, do norte, do sul e do centro. Os Estados Unidos não podem então monopolizar o nome de América, dizem. O argumento, claro, não procede. Digamos que o nome vem mesmo, como parece, de Américo Vespúcio.

Mais importante é Colombo, como é o quinto século do descobrimento que está às portas. Mas ninguém acusa a Colômbia de ter feito monopólio do nome e da glória de Colombo. O grande Neruda, num rasgo demagógico, escreveu: “Hasta el nombre nos robaran”. Também na América Hispânica têm essa mania de “norte-americano”. Em inglês, como em francês, italiano, ou alemão, ninguém dirá que um cidadão é north american, mas american.

Seis toques na máquina de escrever, no computador, no telex ou no fax não é coisa de se jogar fora, ainda que pareça uma ninharia. A hegemonia americana, se existe, no mundo e nas Américas, não será abalada pela teimosia com que usamos a forma “norte-americano”. O que há nessa insistência é um mal disfarçado sentimento de inferioridade. Monteiro Lobato, nacionalista, escrevendo de lá ou aqui, sempre preferiu dizer americano. Quem o acusaria de subserviência?

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