A língua no Havaí só tem 12 letras. Cinco vogais e sete consoantes: “h”, “k”, “l”, “m”, “n”, “p” e “w”. Assim se formam 40 sílabas, suficientes para 20 mil palavras. Arquipélago cercado de água por todos os lados, até a língua é molhada. Tem um toque poético de infantil ternura. O “luau”, a festa genuína, se faz na praia. Em casa, depois de cozinhar “laulau” e “haupia”, a mulher descansa num “muumuu”.

Numa vida de paz e amor, “hanakealoha”, sempre feliz, “lakimau”, a canção nacional é “Aloha Oe”, ou “Amor para Ti”. O “ipo”, namorado, “ho’oha’i”, flerta, e, tendo “holokahana”, sucesso, pode amar ao som da “hula”. 50º Estado da União americana, o Havaí hoje não é mais aquele. Como diria o Oswald de Andrade, está mais pra macumba de turista. Mas a paisagem é bela, com praias e ondas pra surfista nenhum botar defeito.

Um primitivo lema, se não figura na bandeira do “Aloha State”, ecoa ainda no coração do havaiano: “Ua mau ke ea ka aina i ka pono”. Quer dizer que se perpetua pela integridade (física e moral). Paraiso turístico, as ilhas de Waikiki e Kauai dispõem de fantásticos hotéis. Luxo e monumentalidade se aliam. Eu às vezes achava que tinha entrado numa superprodução de Cecil B. DeMille, com uns efeitos especiais do Spielberg.

Certa vez, aqui no Rio, o diretor de uma multinacional me convidou para a sua casa na serra. Custei a dar com a entrada. No caminho, até pertinho, um feio começo de favela exibia seus casebres miseráveis. De repente, abrem-se as portas d’ouro com fragor! Tento com o verso do Antero de Quental dar uma pálida ideia do meu deslumbramento. Verdadeiro Éden, no Gênesis. Novinho em folha, o primeiro dia da criação. Aí me bateu de estalo a intuição: paisagem é verba.

O Nelson Rodrigues gostou da síntese e repetiu-a até cansar. Ele e eu tínhamos certeza de que o melhor adubo do mundo é o dólar. Até a cédula é verde. A famosa verdinha. Hoje, está aí a Eco-92. Muito verbo e, pelo jeito, nenhuma verba. Na minha recente viagem ao Havaí, me lembrei da antiga casa do empresário. Só o dinheiro restaura a paisagem e a natureza que vimos teimosamente estuprando. O resto é discurso. Don't you think so, Mr. Bush?