A propósito da fidelidade cega do capanga contava-nos um amigo que seu pai, fazendeiro no interior de Pernambuco, tinha um cabra bom na pontaria para a emergência das rixas mais sérias.
Na fazenda havia um meninote órfão, criado na casa grande como um filho e de que todos muito gostavam. Entrando na puberdade, o garoto começou a ficar afoito, arriscando-se a longas excursões a cavalo, alardeando valentia quando lhe falavam no perigo de seus passeios.
Um dia, quando o menino havia saído para uma de suas jornadas, devendo voltar com a noite escura, o pai de nosso amigo chamou o capanga e lhe disse para dar uma correção no menino:
— Você se esconde, leve a garrucha e passe um susto nele.
Perguntou o capanga:
— Nele mesmo, seu coronel?
Concluía nosso amigo que esse é o tipo mais intelectual existente entre capangas, o capanga indagador. Os outros fazem o serviço sem perguntar coisa nenhuma.
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Rubem Braga revelou outro dia em uma roda de amigos que, quando morou em São Paulo, de certo modo, foi artista de rádio. Acontece que ele era vizinho da Rádio Record e amigo de um dos seus diretores. A rádio paulista levava um programa famoso na época, patrocinada por um xarope, que tinha aquele anúncio: as mulheres tossem discretamente, os homens tossem espalhafatosamente.
Frequentemente um contínuo ia buscar o jornalista em sua casa. Ele ia. O diretor lhe explicava:
— Braga, por favor fique aqui durante o programa. Sem a sua tosse, o anúncio não sai bom.
E, com algum orgulho, Rubem Braga abrilhantava o programa com sua tosse espalhafatosa.