Definição do rapaz solteiro de Hollywood: “É o homem que está decidido a casar-se com a primeira moça que o amar tanto quanto ele mesmo se ama”.
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Em 1946, Rubem Braga e eu, então moradores de uma casa à rua Júlio de Castilhos, resolvemos estudar inglês. Um anúncio de jornal nos fez decidir sobre o professor. Nós lhe telefonamos, ele veio, combinou-se o preço, aulas três vezes por semana.
Tratava-se de um inglês alto, de testa estreita, cinquentão. As aulas, às oito horas da manhã, para dizer a verdade, não eram muito excitantes. A fim de fugir delas, passamos a usar do expediente primário de mandar a cozinheira dizer que não estávamos em casa. Entretanto, o empedernido súdito de sua majestade não acreditava na desculpa:
― Oh, as preguiçosos ainda estão no cama.
E gritava escada acima:
― Mim está aqui esperando preguiça brasileira.
Não havia jeito, senão descer. E tome verbo irregular. Incapazes de liquidá-lo, sugerimos que, em vez de gramática, fôssemos traduzindo obras literárias, que isso era mais agradável, etc. Foi o diabo. Não me lembro de ter visto, em toda a minha vida, mais inenarrável expressão de estupor do que o dia em que traduzimos um soneto de Ezra Pound, em que o poeta se dizia uma árvore de galhos abertos, no meio de um bosque. O professor arregalou os olhos com um tal brilho de incompreensão total e absoluta da imagem poética que fomos obrigados a desistir definitivamente da poesia. Nunca mais se falou nisso.
E como as aulas subsequentes continuassem monótonas, apelamos para a prosa. A fim de aliciá-lo, procuramos afagar seu nacionalismo falando em Bernard Shaw. Pasmem-se os incrédulos. O mestre fez um ar polido de curiosidade e perguntou:
― Bernard Shaw? Quem é ele?
Pois o homem não estava fazendo humour não. Era no duro, nunca ouvira falar em Bernard Shaw. Trouxemos, então, a peça Androcles and the Lion e começamos a traduzi-la. Dessa vez, a coisa ia melhor. O professor mostrava algum interesse pelo enredo e, para a nossa admiração, pediu o livro emprestado, a fim de lê-lo em casa.
Levou uma semana com o livro. E um dia veio até nós com o ar astuto de quem descobriu a brincadeira que estão preparando para ele. Entregou-nos o livro se rindo muito:
Mim pensou que era coisa séria.
― I beg your pardon, exclamamos em coro.
― Essa peça é somente um joke, disse ele. Leão no fim dança com homem. Ih, ih, ih.