Andava de passagem pelo Rio um cavalheiro de incurável bom gosto. Finíssimo, simpaticíssimo, civilizadíssimo, moderníssimo, um desses homens que chamarei de adjetivos – ornamentais, diáfanos, vazios – em contraposição aos homens substantivos – carregados de sentido, mas pesadões e opacos.
Nada tinha eu a fazer entre a companhia que cercou o magnífico senhor, não fossem antigas obrigações cerimoniosas, que não chegam à crônica.
Cruzei o saguão do hotel, convencido de que as dívidas dessa natureza protocolar, para a mútua comodidade, são saudáveis com dois apertos de mão e cinco minutos de cordialidades sociais: como vai, que tal a viagem, o Rio está quente, quando pretende voltar (oh! por tão pouco tempo!) e, enfim, infelizmente tenho um compromisso inadiável.
Qual o quê! Enredei-me todo na polidez do cavalheiro, não no sentido de quem se deixa enlear na simpatia, mas no de quem, batendo as asas, cai na gaiola da boa educação.
Quando cheguei, já estava presente um ex-ministro, que conhecia de retrato. Meia hora depois, a saleta de apartamento estava repleta: o pintor acompanhado de sua terceira ou quarta esposa, um arquiteto, a senhora feíssima, extraordinária soprano no consenso geral, o cidadão muito rico e muito à vontade, um velho que entendia de Giotto, um moço dando a entender que entendia de Gestalt, outro que falava francês e inglês admiravelmente, dois adidos culturais, um oficial de gabinete de tendências estéticas, a grã-fina de se tirar o chapéu, e mais duas ou três figuras da maior projeção.
Todo um programa a ser executado. Fomos a três museus, visitamos alguns painéis famosos, almoçamos à beira de uma piscina bordejada de mulheres caríssimas, jantamos em um restaurante refrigerado e francês. Houve música, pintura, arquitetura, digressões sobre o barroco, o ritmo, Matila Ghyka, citações de Koffka, Max Bill (que muitos conheciam pessoalmente), Mondrian (le rapport essentiel étant donné par deux lignes droites se rencontrant à angle droit)… Servimos escoceses imaculados e vinhos suaves em copos altos.
Às duas da manhã, devolvido à liberdade, zumbiam em meus ouvidos palavras importantes em várias línguas, movimento, harmonia, equilíbrio, neoplasticismo, peinture métaphysique, nombre d'or, Staaliches Bauhaus, espaço modulado…
Enfarado, respirei o ar desonesto da Lapa. Fui andando sem boas ou más intenções e achei a vulgaridade. Surpreendi-me, em primeiro lugar, pedindo uma cachaça no boteco da esquina, em um satisfatório e feliz movimento de vingança. Virei o cálice de um trago, atrás do balcão. Comi um pastel que tinha um sabor gorduroso e velho de infância. Mas não fiquei nisso, acabei entrando, como se não fizesse outra coisa todas as madrugadas, em um cabaré ordinário. Mau gosto esmerado, música ruim, mulheres ruins, ignorantes, usadas, malvestidas.
Uma das bailarinas, gorda, chamejante, feia, linda, veio sentar-se a meu lado. Por um momento, temi que ela desandasse a elogiar a "unidade tripartida". Com uma voz enjoada e mecânica, no entanto, perguntou-me se eu pagava uma cerveja. Pago uma dose. E ela começou a falar sobre a sua vida de absoluto mau gosto.
As prostitutas são expressões demagógicas da vulgaridade, pensei, sem entender bem o que eu pensava, ao dar um beijo na fronte da mulher, um beijo que podia ser um pouco de fraternidade alcoólica, mas que era igualmente um protesto contra a obsessão do bom gosto.
Dancei um samba, um bolero, rumbei uma rumba, e só não fui ao tango porque não sei, não posso, não dou conta de um tango. Mas pude voltar para casa com a certeza de ter recuperado um equilíbrio ameaçado. Porque me sinto mal quando colocam este nosso mundo conflituoso e as aflições humanas em termos puros de bom gosto.