O que caracteriza uma informação é a possibilidade de ser errada: o ônibus de Araruama tinha saído há meia hora quando chegamos a Niterói. Foi preciso telefonar a outra agência, pedir pelo amor de Deus que esperassem dois minutos, sair correndo pela rua com duas malas nas costas.

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Há um gaúcho no ônibus que fala o tempo todo. Conhece o estado do Rio como ninguém. Sua especialidade, no entanto, é saber horários de trens, de ônibus, de caminhonetes. Discute com o motorista coisas de uma precisão alucinante: “Quanto tempo você levaria, em um ônibus de 36 lugares, ao anoitecer, com uma chuva miúda, de Niterói a Friburgo”?

Como inadvertidamente lhe perguntássemos quanto tempo se levava até Araruama, explicou-nos durante cinquenta minutos a viagem, nas quatro estações do ano, nos diferentes tipos de locomoção, e de acordo com as variações atmosféricas. Tem a paixão exclusiva do horário, do tempo.

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Há uma senhora gorda que diz coisas engraçadas com uma voz horrível, cortante. Caio em meditação: o que é preferível para a mulher, ser espirituosa com uma voz desagradável ou dizer tolices com uma voz doce?

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Melancolia: os cães da roça já não correm atrás dos automóveis. Por quê?

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A gente de Araruama é amável e honesta. (A gente estranha muito a honestidade e urbanidade quando sai do Rio). O dono de uma venda me troca mil cruzeiros, embora, para isso, só lhe restassem no bolso duas notas de dez.

Quando pergunto à arrumadeira do hotel quanto cobra pelas roupas que passou para mim, ela torce a cara com vergonha: “Oh, não é nada não. Ficou tão malpassada! O sr. desculpe, mas o ferro que eu tenho é de carvão”.

Quando peço ao rapaz do armarinho um calção de banho, ele nega: “Os calções de banho que tenho não servem para o senhor: são muito ruins”. Insisto em comprar um calção: ele insiste em não vendê-lo: “são péssimos”!

Em verdade, são péssimos. Comprei vários, um após cada banho.

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Olha ali que lugar bonito!

― É um cemitério. 

― Que horror!

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As andorinhas de Araruama brincam de gaivotas, nas correntes constantes da brisa.

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Qual o tamanho desta lagoa? ― Pergunto a um cidadão local.

― Dizem que tem uns sessenta quilômetros de comprido. 

― E de perímetro? 

―... não é muito funda não....

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