Em uma de nossas capitais há um engenheiro chamado Ernestinho. Fino, franzino, pequeno de estatura.
Os inúmeros conhecidos de Ernestinho são acordes em afirmar e jurar de que se trata da pessoa mais cacete do Brasil, quiçá do mundo.
A especialidade de Ernestinho é fazer visitas, visitas formais, prolongadas, que inspiram tédio e ódio.
Agora, nos contaram que, outro dia, estava Ernestinho na casa de uma de suas vítimas. Duas horas já se contavam que Ernestinho estava sentadinho na sala, a explicar qualquer coisa sobre cálculo de concreto ao casal. A dona da casa, de quando em quando, advertia: “Dr. Ernestinho, por obséquio, não deixe cair cinza no tapete”.
O homenzinho se distraia e começava a bater o cigarro em cima do lindo tapete. Aquilo, a cara de Ernestinho, a voz de Ernestinho, o assunto da conversa, o adiantado da hora, a lembrança das chateações passadas, a apreensão pelas futuras, foi enchendo a educada e amável senhora. Então, de repente, ela se levantou, agarrou o chato pela camisa e disse:
— O senhor quer saber de uma coisa? O sr. é o sujeito mais insuportável do mundo. E quer saber de outra? Nunca ninguém lhe deu uns tapas porque você não aguenta uma gata pelo rabo. Seria uma covardia. Mas eu sou mulher, dr. Ernestinho, e vou lhe dar imediatamente uma surra.
E deu.
Amigo nosso nos apresentou a um rapaz e, mais tarde, nos advertiu: “Cuidado com ele: isso é chato de tirar o paletó”. — E o que é isso? perguntamos. — “É desses que procuram a gente no trabalho e ficam logo em mangas de camisa para chatear à vontade”.
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Apresentaremos aqui de vez em quando o que denominaremos figuras de primeiro plano. Começaremos com o romancista inglês Maurice Baring.
O católico Baring foi chamado por André Maurois de “sábio, palhaço, poeta, santo”.
Celebrando seu 50º aniversário, Baring lançou-se ao mar em traje de rigor.
Oferecendo uma ceia a pessoas ilustres, cozinhe ovos no chapéu de um lorde.
Triscados, ele e Chesterton bateram-se em duelo, por brincadeira, com espadas de verdade.
Durante um almoço em sua casa, ateou fogo às cortinas para que a conversa dos convidados não esfriasse.
Em viagem, não conseguindo pôr o sobretudo na valise, atira-o sem mais delongas pela janela do trem.
Penalizado com um amigo que perdera todos os livros em um incêndio, Baring enviou-lhe a própria biblioteca, precedida de um telegrama: “Biblioteca em caminho”.
Os trechos bonitos que encontrava em uma folha de papel, os enviava para amigos.