Ele estava sinceramente convencido do proveito das férias conjugais. É uma higiene do matrimônio. Lava alma. Bom para ele e para ela. Por mais que se amem e se respeitem, o convívio diário insinua entre marido e mulher uma fadiga, uma irritabilidade, quase um rancor. A separação temporária e periódica preserva o casal dessa imperceptível poeira que se infiltra nos corações e os impacienta e desgasta.

“Um dia desses – dizia ele para a mulher – você é capaz de implicar com meu nariz e tomar nojo de mim”. – “Mas eu acho seu nariz um amor, meu bem”! – replicava ela com uma carinhosa ironia. – “O nariz ou qualquer outra coisa” – afirmava ele. E prosseguia patético: “Na Legião Estrangeira, a maior tragédia é exatamente a convivência! Os soldados chegam a se trucidar só porque, depois de certo tempo, uns não toleram ver as caras dos outros!”

Não ficou no exame psicológico da questão: insistia em motivos práticos, domésticos, fisiológicos, climatéricos, terapêuticos, econômicos, pedagógicos... Ela estava cansada e nervosa. Não há nada mais feio do que mulher nervosa! Dois meses na fazenda fariam a ela um bem incrível. Sem falar nas crianças! Essas, era um crime deixá-las aqui neste Senegal! E ele, ele também estava precisando de calma, de silêncio, de meditar umas coisas.

A mulher, tirando o pesar de perder a praia, já compreendera intimamente a necessidade de ir com os filhos para a fazenda. Se resistia, era apenas para pesar as razões dele, medi-las, cheirá-las, a ver se lobrigava, entre toda aquela argumentação compacta, um intuito escondido, um rabo de saia, um adultério.

Dispôs tudo para o conforto do marido, arrumou as malas e as crianças e partiu. Partiu com uma sombra no rosto e um susto leve na alma. Levavam uma vida bastante feliz. Disse adeus com um beijo e uma recomendação disfarçada em brincadeira: “Espero que quando eu voltar, você não esteja casado com outra…”

A primeira vez em que apareceu sozinho, os amigos repetiram a cansada malícia: “Então, estás solteiro, hein!” Mas ele sorriu enigmático e puro como se tivesse adquirido uma virgindade.

Durante uma semana, viveu venturoso e quieto como um rei. Sentia-se dono de um poder extraordinário. Deixava-se embalar na volúpia da liberdade. Podia chegar tarde, levantar a qualquer hora, jogar cinza no tapete, bater máquina à vontade, dizer palavrão, ouvir a vitrola no ponto máximo, bebericar com os amigos…

Funcionou uma semana essa tranquilidade régia. Depois, as providências tomadas pela mulher começaram a falhar. A geladeira se esvaziou e começou a pingar água. Deu dinheiro à empregada e ela abarrotou a casa com um desperdício de alimentos. As frutas apodreciam. O jornaleiro, por falta de pagamento, deixou de levar-lhe os jornais. O telefone, por falta de pagamento, foi cortado. Uma velhinha que vendia biscoitos (disse que há anos a mulher era freguesa dela) levou a manhã inteira conversando com ele. Cúmulo do azar, a empregada desapareceu. Teria morrido? Teria levado as joias? Não havia ninguém para atender à porta. A campainha e o telefone não o deixavam dormir. Não tinha camisa limpa, a tinturaria não trazia seu terno. Foi fazer café e queimou a mão. Doido de fome, quis fritar um pedaço de linguiça e o fogão explodiu.

Seu reinado foi entrando rapidamente no crepúsculo. Estava ilhado e feroz entre as coisas que se desmantelavam.

Outro dia, finalmente, acordou de água por todos os lados. Tinha deixado na véspera a torneira aberta para encher a banheira, caso a água chegasse enquanto ele dormia. Então, trocou de roupa, meteu os pés na água, contratou com o garagista a drenagem da casa, e bateu apressado para a primeira agência de Correios e Telégrafos: “Morto de saudades, volte o mais breve possível, beijos”.

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