Morei primeiro, desde que mudei para o Rio, em uma pensão em pantanas, do Leme. No antipático Palacete Mon Rêve, tinha um sujeito antipático que dava as ordens. Era tudo muito ruim e bastante caro, porque o casarão ainda procurava exibir seu remoto luxo de mau gosto com azulejos bestas, florões escandalosos e folhas de acanto. Não cheguei a ficar um mês.

Morei um mês na casa de um poeta. Em seguida, aluguei um quarto em um apartamento limpo de Copacabana. As desvantagens eram muitas, mas a senhoria era amável e não me incomodava. Quase dois anos.

Fui morar em um quarto em cima de uma garagem. Um conto de réis! Tinha estante à beça, umidade à beça, desolação à beça!

Um prosador foi-se embora e fui tomar conta da casa dele, em Copacabana. Tinha espaço e aluguel barato. O amigo voltou em menos de um ano e dei o fora, arranjei um apartamentozinho novo na praça Serzedelo Corrêa. Não há nada mais humilhante que um bico de gás no banheiro. Além disso, a dona do prédio, através de uma companhia gananciosa, me explorava muito. Passei o contrato a um historiador, morei um mês no mesmo edifício, pelos favores de um amigo, e fui ver a Europa.

Vivi minha primeira semana de Paris em um quarto todo cheio de cores na rue de Seine. Em frente tinha morado um poeta polonês, quase vizinha era a casa em que morreu Racine, perto o atelier de Delacroix, e havia ainda a sombra de Rainer Maria Rilke, do Pauvre Lelian. Todo esse lado fantástico que me torna incompetente. Era uma beleza.

Tive que mudar. Corri toda a rive gauche em busca de pouso. Fui parar em uma rua estreita e torta, a rue de la Harpe. Viajei à Itália, dormi em todos os hotéis imagináveis, em Gênova, em Pisa, em Roma, em Tarquinia, em Reggio, em Catânia, em Licata, em Palermo, em Taormina, em Veneza.... Nunca me senti tão empoeirado, tão fatigado, tão esfomeado, tão desmesuradamente livre e egoísta como à noite em que cheguei a Veneza. Tomei um banho de pia, jantei e fui dormir, por não querer suportar mais aquele pesado bem-estar.

Veio de novo a rue de la Harpe, casas de amigos em Londres e, já no Brasil, um hotel em Santa Teresa, no meio das árvores. Um amigo viajou e fui passar seis meses no apartamento dele, na rua Marquês de Abrantes. Depois de um mês em Ipanema, consegui um apartamento no Leblon e aqui estou, chateado, querendo mudar-me, porque o apartamento é velho, tudo se estraga, o senhorio não conserta nada, não posso mais.

Sempre fui leitor assíduo da página “aluguel de casas e cômodos”.

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