Passou-se em Minas. Eram fazendeiros, compadres e vizinhos. O coronel Ambrósio era viúvo e cinquentão; o coronel José, um pouco mais moço, havia se casado com a Mariazinha, uma jovem de 20 anos.
Era uma tarde quente. O coronel José passa a cavalo pela fazenda do outro, onde o compadre Ambrósio gozava a fresca da varanda refestelado em uma rede. Conversam um pouco sobre a plantação, a família, doenças.
— Vou à vila ver se chegaram uns engradados de galinha, compadre — informa o coronel José, despedindo-se e dando com o relho no cavalo.
Fazia um calor danado. Ambrósio começou a pensar. Mariazinha estava na fazenda do compadre. Fazendo o quê? Sozinha. Era uma cabrocha bonita e limpa. De pensamento em pensamento, Ambrósio resolveu arrear a sua besta, e trotou para a fazenda do compadre, onde a Mariazinha estava sozinha, bonita e limpa.
Chegou. A comadre lhe perguntou que bons ventos o traziam.
— Estou dando uma voltinha, comadre.
— Pois é, quem é vivo sempre aparece.
Conversa vai, conversa vem, o compadre fez à comadre, sem mais preâmbulos, o que se chama de uma proposta desonesta.
— Pois não, compadre. Se o compadre José, que é meu senhor, consentir, não tem dúvida.
— Pelo amor de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, comadre! Não toque nisso com o compadre, que ele me mata ou eu morro de vergonha.
Mariazinha sorriu enigmática, ouvindo as esporas do marido tilintar no terreiro.
— Uai, compadre, que honra!
— Pois é, Zeca, foi ótimo você ter chegado. O compadre Ambrósio chegou aqui agorinha mesmo para propor um negócio.
O coronel José, pálido e vesgo, sumia-se na cadeira.
— Que negócio, compadre?
A mulher respondeu por ele:
— Sabe aquele burro velho e manco, o Tinhoso?
— Que tem o burro?
— Pois não sei o que deu na telha do compadre Ambrósio que ele ofereceu cinco contos pelo Tinhoso.
— Verdade, compadre Ambrósio?
— Verdade, compadre Zeca, e ali no cobre!
Nota: Título atribuído por Humberto Werneck à crônica identificada na base de dados da instituição como “Passou-se em Minas..."