Uma senhora vendeu a sua casa, ótima casa, a um senhor alemão. Trata-se de terreno em um parque residencial na estrada União Indústria. Ora, as posturas municipais exigem no contrato uma cláusula proibindo aos moradores a criação de animais domésticos.
Realmente, na casa do senhor alemão nunca foram vistos gatos, cães, vacas, galinhas, etc. Nem mesmo moscas e baratas. Acontece, no entanto, que o comprador da casa tem o ofício de comprar outros animais para revendê-los. Animais de modo nenhum domésticos: leões, tigres, macacos, onças, serpentes, zebras, hipopótamos...
A pacata região petropolitana vive hoje, durante a noite, os ruídos e os sustos dos filmes de Tarzan. Os crepúsculos tranquilos da serra se animam com os gritos das feras enjauladas. Às vezes, muito mal enjauladas. Um dia foi uma onça que fugiu e andou rondando pelas cercanias. Uma zebra se perdeu na capoeira. Rara é a semana em que um macaco não consegue escapulir da gaiola. Há então correrias doidas atrás do animal fugido, enquanto vai aumentando, soturno, o pânico da vizinhança.
Há poucos dias um casal de camelos foi desta para a melhor. Os cadáveres foram inumados na terra fluminense. Até agora, não se sabe o destino de um enorme jacaré que desapareceu de casa e não voltou, possivelmente tendo ganho as águas barrentas do Piabanha.
Um amigo nosso, vizinho do alemão, olha tudo isso com um pouco de bom humor e bastante de infância. Mas já faz coro com os outros que andam procurando uma fórmula legal de demonstrar em juízo que, se a lei proíbe animais domésticos, é porque a proibição de animais selvagens está implícita no bom senso de cada um. E eu, eu senti não ter dez anos de idade para viver com inenarrável orgulho a glória de ser vizinho de um tigre de Bengala.