No hall do edifício há sete escaninhos de madeira para a correspondência. Não escrevo cartas e, portanto, raras cartas recebo, mas todas as vezes em que entro em casa ou dela saio (foi meu professor que me incutiu no ginásio esse complexo pelo regime dos verbos) não há como deixar de abrir a caixinha e dar uma olhada. Se não há nada para mim, há dois ou três segundos em que me sinto infeliz, despojado de amigos, em uma idade cuja órbita se estira para fora de todas as surpresas. Assim, a própria ausência de novidades transforma-se no meu susto cotidiano.

Às vezes, no entanto, a monotonia postal de minha vida é interrompida por uma carta. De amor, não. Carta de casamento, de literato, de morte. Rasgo os envelopes com uma certa fúria trêmula. Procuro nas linhas, a máquina ou manuscritas, uma absurda palavra definitiva, que aclarasse o mundo, mudasse o rumo da minha vida, me fizesse rico, ou louco, feliz para sempre, ou dono de um segredo que fosse terrível e me tornasse, dentro das minhas modestas boas maneiras, o mais sinistro dos homens.

Mas as cartas são mensagens pálidas de homens tão desorientados e ignorantes quanto eu. Se muitas vezes falam a linguagem da amizade a um coração triste, sempre me decepcionam porque não trouxeram a única e desconhecida palavra que espero. Sou aquele personagem de um romance inglês, meio ridículo e patético, que retardava de todos os modos o momento de despedir-se dos amigos, na esperança insensata de que um deles alguma vez fosse chamá-lo a um canto e dizer-lhe, clara e duramente, o que era a vida e como se devia viver. Ou como Hélio Pellegrino, que me confessou nunca ter escutado sem emoção a campainha do telefone.

Lembro-me de outras cartas: as que recebi em uma ilha deserta chamada colégio interno; as de Heloisa, cheia de alusões misteriosas e cuja própria caligrafia era um recado que eu não tinha coragem de entender; as de Teresa, que reunia à ironia as três qualidades do estilo: simplicidade, concisão e clareza; as de Maria, as mais suaves que os Correios deixaram à minha porta; as de Conceição, loucas, oh, completamente loucas.

Cartas de amor e de amigo.... Hoje, estando eu nos antípodas de madame Sévigné, são poucas as que chegam até a mim. Ninguém me ama, ninguém me escreve. Com exceção, justiça seja feita, do gerente do banco que, fielmente, pontualmente, pede notícias minhas de três em três meses.

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