Entrevista imaginária comigo mesmo, por absoluta falta de desejo de trabalhar:
P — Como é que você se chama?
R — Eu só me chamei uma vez, ao espelho, de imbecil. Os outros me chamam de Paulo.
P — Qual é a sua flor predileta?
R — A Flor del Fango.
P — E a sua fruta predileta?
R — Fruta-pão ensopada.
P — O que você acha do Brasil?
R — Mais ou menos.
P — Qual o verso mais bonito da língua portuguesa?
R — “Basta, guerreiro ilustre: assaz lutaste”.
P — Você se considera engraçado?
R — Ligeiramente um pouco mais do que o sr. Otto Maria Carpeaux.
P — Você é triste?
R — De pai e mãe.
P — Qual é o sinal do cristão?
R — O sinal do cristão é o sinal da cruz.
P — Se você não fosse casado com quem gostaria de casar-se?
R — Com o Ali Khan, por correspondência. Entraria no dia seguinte com um processo de desquite litigioso.
P — Acha que no Brasil se rouba muito?
R — Não: há muito pouco que roubar.
P — O que pensa do sr. Edgar Estrela?
R — Um espírito engarrafado.
P — Gosta da falta d’água no Rio?
R — Adoro.
P — Se você não fosse jornalista o que gostaria de ser?
R — Gostaria de ser o Joe di Maggio.
P — Qual a capital da Holan-
R — Haia ou Amsterdam.
P — Acredita em fantasma?
R — Sou um.
P — Seria capaz de dizer todos os Estados do Brasil pela ordem geográfica?
R — Tenho minhas dúvidas.
P — Sonha muito?
R — Sim, com provas parciais de matemática.
P — Gosta de dançar?
R — Gosto, mas as damas não gostam.
P — Que acha do cinema nacional?
R — Respondo com uma pergunta: O que o cinema nacional acha de mim?
P — O “Primeiro Plano” de hoje está excepcionalmente cretino?
R — Não, nem tanto.
P — Gosta de aipo?
R — Como você sabia? É a coisa de que mais gosto.
P — Recebeu “bilhete azul” no terceiro ano de ginásio?
R — Engraçado, recebi.
P — Já fugiu de casa?
R — Já, aos doze anos.
P — Quando serviu o Exército, fugiu do quartel usando de uma corda, foi preso por dez dias e ingressou na conduta regular?
R — É exatamente assim que está escrito no meu certificado de reservista.
P — Gosta de mulher bonita?
R — Sou fanático.
P — Acredita em Papai Noel?
R — Não, formei meu espírito na leitura dos enciclopedistas franceses.
P — O que acha de Rui Barbosa?
R — O Evaldo Rui Barbosa? Muito rouco para meu temperamento, mas um ótimo sujeito.
P — Não, quero saber o que você acha do Rui da “Réplica”?
R — Este não cheguei a alcançar.
P — E agora?
R — Agora assino e mando isso para a redação.