Às vezes tenho vontade de entrar, sentar-me no degrau da varanda, beber um refresco, conversar bobagem com eles. Seguramente são felizes. Passo por lá várias vezes por dia, em horas mais diversas. Sempre um grupo deles conversa na varanda.

A casa é modesta, em Ipanema. As pessoas que a habitam são muitas. Os amigos me parecem também numerosos. Detestam roupa. Os homens estão sempre de calção de banho; as mulheres, invariavelmente de shorts. Pelo menos uma meia dúzia de gente madura, umas quatro moças, três rapazes, algumas crianças. Seguramente não escrevem crônicas. Possivelmente não devem ocupar-se muito com o trabalho. Ficam horas a fio (o dia todo, creio) na varanda a parolar, a rir, tomam cervejas e refrigerantes. Algumas vezes chegam a almoçar na pequena varanda, diante do jardim maltratado. Passo e olho-os, nunca terei a coragem de entrar. E noto que são todos, elas e eles, gordos, feios e sorridentes.

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Em uma casa inequívoca da avenida Niemeyer, na entrada do bar que lhe disfarça o comércio, há uma tabuleta com os seguintes:

 

PARA VEREADOR — JORGE PINTO AMANDO — O NOSSO CANDIDATO.

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“Seu” Antônio tinha uma venda em Mossoró. Era teimoso e sovina. Nunca ninguém conseguira fiar no seu armazém; nunca “seu” Antônio fez qualquer ato que outrem lhe sugerisse. Mas Manoel precisava de cinquenta mil réis com urgência, e só podia apelar para “seu” Antônio. Combinou um plano com o João Goiaba e foi procurar o velho teimoso. Manoel chegou-se para perto do balcão e deu a cantada em “seu” Antônio. Antes que este respondesse, o João Goiaba, por trás do amigo, fez ao vendeiro um sinal negativo com a mão. “Seu” Antônio ficou danado:

— Leva cem e pague se puder. O que esse bobo aí atrás tem com a minha vida? O dinheiro é meu, eu empresto “ele” para quem eu quiser.

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Amigo nosso nos conta sua desdita: entrou em uma festa em que estava um desafeto seu, vestido impressionantemente igual a ele: sapato mocassim, meia azul, calça cinza, paletó riscadinho, camisa branca e gravata azul. E ambos ouviram inúmeras vezes o mesmo gracejo:

— Vocês agora estão tocando na mesma orquestra?

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