Um conhecido nosso, que se casa no dia de hoje, quarta-feira passada entrou em uma sapataria do centro da cidade para comprar um par de calçados. A seu lado, uma senhora de idade fazia também suas compras e protestava para o caixeiro, e para quem mais quisesse ouvir, contra o custo da vida. Dizia:

— O que eu não posso compreender é que ainda existam rapazes malucos que ainda se casam! Casar como!? Se os vencimentos mal dão para que uma pessoa se aguente em pé! Para casar hoje é preciso que a pessoa não tenha o menor senso de responsabilidade! Só um louco! Um imbecil!

O rapaz não se conteve:

— Se a senhora me permite, eu gostaria de dizer que me caso no próximo sábado.

Ela teve alguns segundos de embaraço, mas logo se refez, para dizer:

— O senhor vai me desculpar, mas eu não posso retirar uma palavra de tudo que disse.

*

O pai de um amigo nosso era capitão da polícia em Sergipe. Como em uma pequena localidade do interior a luta política houvesse se tornado quente, com muitas mortes e escaramuças, foi ele enviado para lá, a fim de dar um jeito no conflito.

Alguns dias depois, voltava a Aracajú e comunicava ao Secretário do interior que a situação estava plenamente resolvida.

— Mas como? Em tão pouco tempo? Como você conseguiu fazer essa pacificação?

— Muito fácil, respondeu o capitão. Apliquei a justiça para os nossos amigos e a lei para os nossos inimigos. 

*

A menina, de nove anos, foi com o pai à casa de um amigo, onde havia um “móbile” de Alexander Calder. Intrigada, quis saber o que era aquilo. O pai lhe disse que era um “móbile”. Ela não se satisfez, e ele teve de explicar que aquilo era, mais ou menos, como as esculturas que tinham em casa, mas uma escultura que se mexia ao sabor do vento.

— Entendeu, minha filha? 

— Não entendi, não, papai. 

No dia seguinte, pai e filha foram à praia. A menina se deitou na areia, olhando o céu.

— Papai, agora eu entendi. 

— Entendeu o quê?

Aquele negócio de “móbile”. 

— Me diga, então.

— Por exemplo: a nuvem é um “móbile” de Deus.