O “humor negro” está nos jornais. A notícia, transcrita abaixo, publicada há três dias, parece um poema em prosa do mais antigo Max Jacob:

O fato ocorreu no momento em que era rezada a missa das sete horas e meia, quando havia poucas pessoas no templo. Na ocasião em que o padre se inclinou ante o altar, a mulher se aproximou dele e cravou-lhe o punhal. Ao cair, o sacerdote exclamou: “Por que faz isto”? e logo desmaiou. A mulher retirou o punhal do pescoço do padre, colocou-o a seu lado e em seguida, com toda a calma, caminhou em direção à porta da igreja, sentou-se em um dos últimos bancos e inclinou a cabeça em sinal de oração, até a chegada da Polícia.

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Em História da minha infância, conta Gilberto Amado que seu pai, a que todos chamavam de Melk, criou na cidadezinha de Itaporanga um teatro que foi o sucesso local. Todos os habitantes queriam papéis nas peças representadas. Em torno dessa febre teatral, o autor narra divertidíssimos episódios, entre os quais o seguinte:

Morava em Itaporanga um homem retirado dos negócios, que tinha uma quebradura, uma hérnia tão grande que lhe motivou o apelido de Cabaça. Andava com as pernas em arco de barril, balançando dentro das calças um volume pesado, enorme. Quando se sentava esse volume batia quase no chão, não cabia em cadeira nenhuma. Pois esse homem veio a loja e puxou conversa sobre o teatro.

— Você, Melk, nunca me deu um papel — disse com a mágoa de um logrado, ressentido por uma ingratidão sem limites.

Meu pai não quis, não pôde compreender. Ele voltou à carga:

— Você tem dado papel a todo mundo, até a adversários seus, a inimigos figadais, a detratores, deu papel até a Chico Queirós! A mim ... esqueceu.

E cravou dolorosos olhos nos de meu pai.

Compassando-o com a vista, meu pai fixou-a no bojo que lhe bolsava das calças e, embaraçadíssimo, murmurou:

— Mas Jordão ... você... 

Ao que atalhou o homem:

— De batina, Melk, de batina. Já houve papel de padre em duas peças!

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Também de Gilberto Amado, do mesmo livro, essa afirmação que me libertou de um complexo: “Ninguém sabe nome de árvores no Brasil, aliás em parte nenhuma, como pude verificar em minhas viagens”.

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