Escrevo esta nota com tanto atraso que neste momento uma grande parte do jornal já está rodada. Olho esses primeiros cadernos impressos com a ternura e o desgosto de um pai olhando o filho nascido demasiado feio. “Primeiro número é assim mesmo” 一 dizem os amigos para nos confortar. Mas está ruim demais; meus olhos tropeçam em erros de revisão, gatos, legendas trocadas, falhas, mancadas mil.
Não cuidem que falo mal de Comício apenas para fazê-lo antes dos leitores. Não é esperteza, é desgosto verdadeiro. Agora mesmo o homem da oficina longínqua diz, pelo telefone, que o outro caderno está rodando, “mas a impressão da rotoplana não está muito boa”. Ah quando eles dizem que “não está muito boa”! A culpa não é dos operários, nem nossa, nem de ninguém, é da pressa, esta pressa brasileira... Sim, o melhor é falar mal do país, pôr toda a culpa nas costas do Brasil, que as tem grande (oito mil quilômetros, se não me engano).
Em todo caso 一 digo a Joel 一 o melhor, no dia do lançamento, no lugar da uiscada festiva, é nos juntarmos todos na redação, nós, os responsáveis, cobrir a cabeça com sacos de estopa, mastigar cinzas e entrar em lamentações.
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Jornal ou revista? Essa pergunta me deu muito trabalho, até que inventei uma resposta: “se está grampeado, é revista”.
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A capa 一 Deus sabe porque circunstâncias 一 parece a de um panfleto comunista. A contracapa foi uma solução 一 ou melhor, não foi uma solução 一 de última hora. Era para sair um retrato da mesma jovem em pé, junto da barra de exercícios, as coxas longas estendidas, uma beleza. A seção feminina tinha matéria demais para uma página, até que se descobriu que mal dava para meia. Aquela nota sobre a exposição do Museu de Arte Moderna do Rio está ilegível. Aquela crônica... mas chega. Vamos mudar de assunto. Como está bem impressa essa revista nova, Manchete!
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Tudo, é claro, vai melhorar. O Brasil é o país do futuro. Nosso time que venceu o sul-americano, não tinha empatado com o Perú?
Viva o Brasil, e até a semana que vem.