Deitar na praia de noite, ficar olhando o céu, vendo as estrelas. Então a gente rumina vagas noções de astronomia e, com certeza, se lembra da infância, do amor, do destino. Não, isso eu não aconselho a você.

Talvez seja bom que a gente se sinta humilde diante desse mundo misterioso e infinito. Mas a consciência dessa humildade contém um certo orgulho. E também a gente pensa muita coisa que não sabe pensar.

Muito melhor é deitar nesta rede, assim pelas quatro e meia da tarde e ficar olhando o céu da tarde de maio. O céu não tem mistério, é simples e azul como uma blusa de menino. A luz é tênue e loura; passam pequenas nuvens brancas, vagabundas. Você imagina apenas que seria doce voar. A terra deixa de existir do mesmo jeito, mas em seu lugar não tem nenhuma pergunta nem aflição: apenas, você se deixa levar com preguiça pelo céu azul.

E eu às vezes tenho vontade de explicar a um senhor de pouca imaginação que tem o ar de se aborrecer e está se queixando das fitas de cinema, do show caro a que foi assistir:

― Descobri uma coisa formidável, meu velho. Tenha a bondade de levantar a cabeça. Está vendo aquela árvore? É mais para cima. Está vendo agora? Hein, não está vendo nada? Ali, olhe. Não está enxergando nada? Você é cego? É o céu! Já tinha visto alguma vez?

Tenho vontade de dizer isso, mas tenho vergonha. Mas a você eu conto minha descoberta. Sou um homem extraordinariamente rico: tenho uma janela para leste. Neste momento em que escrevo disponho de duas nuvens brancas. Não são muito grandes, mas são lindas. Posso imaginar você voando lentamente de uma para outra. De repente me acode que estou pensando uma tolice. Mas estou sozinho na rede, é doce pensar tolices. Se eu lhe contasse isso você riria, com seu riso que faz encolher o ombro esquerdo. O direito, não. Seu ombro direito é sério.

Fico pensando em você. Adeus, céu, gaivotas, nuvens. Estou sério, parado, triste, pensando em você.

rubem-braga
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