Em um ano, amigo, Copacabana não perdeu nenhum bar, reformou vários e abriu alguns. Há novidades desde o Leme ao Posto 6: e digo isso embora tenha feito apenas um reconhecimento perfunctório. O que está na moda é o pequeno bar de muita penumbra; há um certo abuso do gosto francês.

A julgar um país (Copacabana não deixa de ser um) pelos seus botecos, então deveremos confessar que a influência francesa aumentou muito em 1950. O que não impede que proliferem também essas estranhas casas de balcões luzidios e gosto metálico à americana onde a nova geração (não sei o que será dela, e estremeço) se entrega a todos os vícios da Coca-Cola e do leite maltado, com uma fúria que me deixa melancólico. Cada uma dessas beberanças e sorvetécos tem seu pequeno nome gaiato: tracinho no meio que brilha em cartazes coloridos. Enfim, não há de ser nada.

Pior coisa me parece o aparecimento de um bar, este noturno, e música, que lembra, pela sua freguesia delicada e monótona, a Reine Blanche aí do lado do Lipp. Uma senhora de minha amizade que o visitou certa noite recebeu, dos rapazes que lá estavam, olhares de censura e reprovação. Compreendeu que estava sobrando e tratou de sair, murmurando, como o velho cronista: céus, o Rio civiliza-se!

Você me acusará de frívolo e pedirá notícias mais gerais. Pois tudo o que há é que doutor Getúlio ganhou mesmo; ganhou e vai levar. Enfim, a culpa não foi minha. Em dezembro de 49, já com o pé no estribo do “Bandeirante”, fiz uma crônica em que prometia, como o general Dutra, não influir de jeito nenhum na escolha do novo presidente: Transcrevo-me: — “Deixo-lhes um Brasil que ouve os primeiros sambas de mais um Carnaval e os primeiros roncos de mais uma campanha de eleições. Vou-me embora: se não há nenhum mérito nisso, também não creio que haja desonra: melhor andaria o Brasil se muita gente fizesse como eu, nesta Pátria do diz-que-vai-mas-não-vai. Escolham os senhores o seu presidente com toda a liberdade, que não interferirei no mais mínimo; mas, por favor, vejam lá o que fazem”.

Veja você, meu irmão, o que eles fizeram.

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