Vem agosto, voltam os meninos à escola, almoça o sr. Vargas na universidade. E diz que “as expansões criadoras do sentimento e da inteligência brasileira não teriam podido tomar o rumo que tomaram, se não tivessem encontrado no meu governo a simpatia, a compreensão, o apoio cotidiano, o estímulo e a liberdade, que nunca lhes neguei”.

Nunca. Durante dez anos desse benemérito governo algumas dezenas de intelectuais e artistas tiveram a maior liberdade de só escrever o que a censura deixasse, de morar à custa da nação em cadeias federais e estaduais e mesmo de usufruir temporadas de descanso nas ilhas, como aconteceu, por exemplo, ao Graciliano Ramos. A Detenção do Rio conheceu um amplo movimento intelectual, com a cooperação de vários professores, poetas, artistas, romancistas e jornalistas. Quanto ao estímulo, a verdade é que o governo Vargas estimulou a publicação de mais de uma centena de obras editadas pelo DIP, todas sobre o senhor Vargas que, aliás, é um excelente assunto. Desta maneira todos acharam, como diz o presidente, “ambiente favorável à livre afirmação de suas tendências e aspirações”.

Fora disso, a praia está boa, o escultor Pedrosa chegou do Paraná, o escultor Ceschiatti vai a Belo Horizonte e o cônsul Mário Vieira de Melo, de partida para Roma, via Paris, acabou de escrever um romance chamado Mariano, cuja ação se passa na rua do Catete e imediações — onde, aliás, também aconteceu um bom romance de costumes, injustamente esquecido, de outro diplomata, Enéas Ferraz.

No momento o que há de melhor a fazer é subir ao nono andar da A.B.I. para ver os quadros do pintor Antônio Bandeira. Há óleos grandes e guaches pequenos, de uma extrema delicadeza de cor. Ir logo, que o pintor (que está satisfeito com o movimento de vendas) já está arrumando as malas para ir não a Paris, mas ao seu pátrio Ceará.

A quem, entretanto, preferir uma pintura menos Saint Germain des Prés e quiser, por exemplo, um retrato parecidíssimo com a pessoa, aconselho a encomendá-lo ao Reis Júnior, que acaba de pintar o menino Braga, filho do cansado cronista do mesmo nome. O focinho do rapaz está igual. Só falta falar: “então, velho, vamos à praia”?

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