Parque Índígena do Xingu, circa 1975. Foto de Maureen Bisilliat/ Acervo Instituto Moreira Salles
Uns mais, outros menos, cada um dos 12 meses nos reserva agendas – nenhuma delas mais imperiosa que a de dezembro. A contragosto ou de coração, quase não há quem não embarque ou se deixe levar pelo turbilhão inescapável de encontros, confraternizações, reconciliações, compras, festas, excessos de copo & garfo, tudo isso temperado por balanços de vida e formulação de planos para o ano que virá no tobogã do réveillon.
Vividos ou enunciados, haverá excesso, também, de clichês e frases feitas sazonais. Se não há como fugir, por que não assumir, como se fosse livre escolha, o vagalhão de lugares-comuns que o calendário dezembrino nos impõe, sejam eles concretos como o pinheirinho pejado de bolas, sejam imateriais como os votos de Feliz Natal e Próspero Ano-Novo, formulações para as quais, de tão repetidas, deveria haver, no computador, uma tecla específica.
Sim, assumir gostosamente os rituais e falas deste mês vertiginoso de celebrações, arremates e enunciação de propósitos – se possível, com leveza e graça, à maneira do grande Antônio Maria na quase sessentenária “Frases de dezembro”, crônica de 1959 na qual a passagem do tempo não cavou rugas nem banhou em sépia.
Na verdade, há mais regalos literários ao pé da árvore – e, se der vontade (dará!) de desembrulhar mais alguns, que sejam, do mesmo Maria, agora intimista, docemente melancólico, a “Canção de fim de ano”, cuja leitura não precisa esperar pelo último dia de dezembro; de Rachel de Queiroz, “Presente de Natal” e, de Paulo Mendes Campos, “Os reis magos”. Vá remexer no farto baú deste Portal, e se presenteie com estes e outros estímulos para bem fechar o ano e amaciar a entrada do que vem aí.