A notícia mais importante e comovente (para mim) destes tempos é que a livraria José Olympio Editora resolveu patrocinar desinteressadamente a edição de luxo de um livro de crônicas do obscuro, porém simpático sr. Rubem Braga, denominado (o livro) A borboleta amarela.
Botei aqueles parêntesis com o livro dentro para evitar confusões, pois às vezes acontecem algumas lamentáveis, como esta, do último número de Manchete, em que o cronista político Pedro Gomes reclama (com toda razão, a meu ver) contra as injustiças comumente feitas ao sr. Otávio Mangabeira: “Existe em certos setores uma má vontade em relação ao sr. Otávio Mangabeira que peço licença para chamar de cretino. Terá sido má vontade do linotipista ou do revisor — ou horroroso lapso do próprio autor — aquele “o” final de “cretino”, no lugar do “a”?
Mas voltemos ao que (a mim) interessa. O livro em questão consta de 60 crônicas selecionadas pelo autor entre os milhões que ele escreveu nestas e em outras colunas entre dezembro de 1949 e janeiro de 1953. Está sendo composto em corpo 14 muito bonito, formato imenso (28 x 38) papel ótimo, impressão Bloch, três cores, uma beleza. Um grande valor do livro é a ilustração do desenhista Carybé, que fez dez desenhos de página inteira e mais a capa. Além disso haverá, para assustar as crianças que quiserem mexer no livro, um retrato do autor — o que seria lamentável se o mesmo não fosse feito por Cândido Portinari — ainda não se sabe se em litogravura ou em um processo chamado silk screen, o que será resolvido por estes dias, pois o Candinho ainda está convalescendo.
Com tão grande chamariz e se associando a tão alto valor, e levando em conta ainda a fatura material esplêndida, o autor cobrará mil cruzeiros por exemplar, o que não é exagerado se levarmos em conta o preço da vida (e do uísque) e a circunstância dos exemplares serem em número de apenas 490, em boa parte já reservados. Os inteligentes senhores interessados tenham a bondade de fazer reserva de seus exemplares na livraria José Olympio Editora, Praça 15 de Novembro, 20 — 2º andar — Distrito Federal, telefones 43-5773 43-4722, podendo mandar logo a importância referida ou deixar para pagar na entrega do livro. As pessoas que não dispuserem da referida importância devem esperar mais alguns meses pela edição comum, que José Olympio lançará.
Os senhores credores do autor são convidados a subscrever o livro, especialmente o senhor Alcebíades França Faria, presidente do Banco da Prefeitura deste Distrito Federal, que alimenta a desvairada teoria de que papagaio é feito para ser pago e não reformado, o que, aliás contraria as mais sagradas tradições brasileiras, desde a formação da nacionalidade até o último inquérito do Banco do Brasil, — assunto, que, de resto, é melhor deixarmos para ser discutido no dia 9 de junho próximo, conforme aviso em meu poder. O ministro Horácio Láfer é notificado de que pode subscrever até 10 exemplares para distribuir de presente, sem temor de provocar uma inflação de borboletas amarelas, visto que a edição é rigorosamente limitada, numerada e rubricada, e não será feita nova emissão do mesmo teor. O general Anápio Gomes poderá subscrever um exemplar, mas preferimos que pague desde logo, pois é preciso restringir e sanear o crédito. A COFAP evitará qualquer especulação no mercado de borboletáceos. O livro NÃO será vendido nos caminhões-feiras da prefeitura.
Habilitem-se, e adeus.