Amor, a quanto obrigas. “Minha querida Elza, isto é demais, eu vou me matar, adeus”. Depois de escrever isso, o taifeiro Antunes derrubou um litro de álcool na roupa e tacou fogo. Quando começou a arder, saiu correndo pelo quintal e se jogou dentro de um poço. Está no hospital, onde também está (outra notícia) Maria Angélica, residente à Travessa dos Prazeres, s/n. Travessa dos Prazeres Sem Número! Maria Angélica brigara com um tal Antônio e também ateara fogo às vestes.
Em Inhaúma, Ricardo chegou em casa bêbado, Moema brigou com ele. Amor, a quanto obrigas. Ela conta que ele lhe quis dar uma surra; ela o empurrou, ele caiu, a cabeça bateu numa pedra, ele morreu.
Paro de ler os jornais e fico pensando no amor, o errado amor, e o desprezo, o ciúme, o ridículo, a brutalidade, as doideiras do amor. E a força das coisas puxando, empurrando, matando os homens e as mulheres.
Fico pensando. Acho que arranjei um novo amor. Joana é moça e engraçada. Os amigos, sempre atentos, me avisam que ela tem um passado meio maroto. Bem, o meu também não é lá essas coisas.
Joana: se não vieres eu me queimarei: se vieres ateará fogo às vestes, eu te espancarei barbaramente, te mandarei bilhetes e ficarei desgraçado como o taifeiro. Joana! Há uma casa desocupada na Travessa dos Prazeres Sem Número. Vem. Eu me lançarei incendiado no poço. Joana, vamos morar na Travessa dos Prazeres Sem Número, ou no Beco das Tristezas Sem Número; não importa a rua, o que interessa é a falta de número; jamais receberemos cartas: de nada saberemos nunca; lá não irão jornais e eu não lerei as tristes histórias do amor.
Joana, eu colocarei uma pedra no quintal para me fraturar a base do crânio quando me derrubares. E nossos nomes sairão errados nos jornais.
Plantaremos couves e as comeremos como coelhos para alimentar meu triste e teu radioso organismo; e também grandes figueiras bravas onde se enforcarão comodamente os doentes de amor das gerações futuras.