Publicada, posteriormente, em Ai de ti, Copacabana, Sabiá, 1967.
Ir à praia cedo, como na infância. As ilhas no horizonte ainda são veladas pela névoa da madrugada. O mar andou bravo esta noite, arrancando algas e mexilhões das pedras em seu grande assanhamento de lua; respirar seu hálito acre; dar um mergulho na água fria, na praia ainda solitária, levar umas pancadas de onda, voltar para o sol da areia. Andar assim à toa ao longo da praia, o sol nos olhos, chapinhando na espuma branca. São raras as pessoas que vão surgindo; a maioria da gente que vem à praia despreza esta delícia matinal, este mar novo de cada manhã, esta areia ainda virgem, esta pureza do ar que me restaura na infância, me faz simples, alegre e bom.
Mas encontro, com surpresa, uma senhora conhecida. Ela trouxe pela primeira vez à praia seu menino nu, que deve ter dois anos. Fala com ele, ergue-o no ar, brinca, ri, toda contente de ver seu menino nu brilhando ao sol. Vou seguir caminho, mas me detenho a vê-la: carregou a criança para junto das espumas. O garoto que ria, olha pela primeira vez, bem de perto, o mar. Está sério. Uma língua de espuma avança até ele, molha-o de leve. Ele chora, olha a mãe que o excita rindo, batendo palmas. Ele se anima outra vez, talvez sinta que o mar é bom, é um brinquedo novo da mãe. Outra espuma se aproxima, mas não chega até ele; a mãe avança o braço, bate com a palma aberta na água, sempre falando, rindo. Ele olha, entre inquieto e divertido. Vem outra onda, mas a mãe o ergue no ar; a água fria apenas beija seus pezinhos.
Eu me afasto mais; longe, me sento na areia e fico olhando o quadro. Contra a luz, já não distingo os rostos, nem ouço a voz da mulher. Assim, com a silhueta cortada contra a luz que se reflete no chão molhado, ela parece estar nua como o seu menino. É apenas uma jovem fêmea que ensina o mar e o mundo à sua cria; transmite-lhe a experiência da espécie e o sentimento dos deuses; na sua graça matinal esse batismo tem uma beleza solene.