Meu amigo embarca para o Chile e eu lhe pergunto se ele está contente, ele me responde:

— “Estou contente de sair um pouco do Brasil. Sei que não adianta; sei que na volta encontrarei as paredes mais cheias de rabiscos, as ruas mais atravancadas, o número de candidatos à presidência maior, os títulos dos jornais mais violentos e os escândalos do governo mais lamentáveis; a inflação mais solta, os ricos mais ricos, os pobres mais pobres, os demagogos mais demagógicos. Mas enquanto vou e volto, descanso a alma. Sento-me no avião, pego um romance policial, e quando passar a Cordilheira o Brasil já será para mim um rumor vago, alguma coisa sem importância, com o ruído de um bonde numa rua distante, que mal se ouve.

E então virá o Pacifico. O Pacífico! Este nosso pobre oceano Atlântico é, perto dele, bem pequeno, e até parece mesquinho. O Pacifico é mais belo, tem ilhas perdidas na distância sem fim... E as mulheres do Pacífico! Ah, elas me farão esquecer essas mulheres do Atlântico, as que se banham nesta enorme lagoa banal em que nos banhamos. Estou cansado dessas mulheres do Atlântico, cansado de suas vaidades e de seu desamor, quero ver as mulheres que se banham nas mesmas ondas das ilhas dos mares do sul, quero o mar das mulheres de misterioso amor... ah, meu amigo, só em pensar nisso me sinto feliz, em esquecer por algum tempo ao menos essas mulheres do oceano Atlântico, essas mulheres que só me fazem mal...

No Pacífico eu serei um viajante, um homem que passa, e toma o que lhe dão, e vai seguindo e não voltará, um homem transeunte, um homem feliz. Até a volta”!

rubem-braga
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