Não vou chorar sobre o corpo inanimado do sr. Getúlio Vargas as lágrimas que não tenho, nem balbuciar as orações que minha descrença não aprendeu; trago apenas a angústia e o silêncio diante do irreparável. E um profundo respeito.
Embora obscuro e sem força fui sempre seu adversário — ser adversário do sr. Getúlio Vargas através de um quarto de século é uma boa escola de derrotas. É impossível deixar de reconhecer que ele transformou sua hora pior em uma espantosa vitória. Estarrece ver como até o último instante ele foi fiel ao seu estranho temperamento. Temos o depoimento que um seu amigo, o deputado trabalhista Rui Ramos, deu no patético discurso que ontem pronunciou na Câmara. Nenhum de seus familiares, nenhum de seus amigos mais chegados — nem mesmo Oswaldo Aranha talvez o único a tuteá-lo — pressentiu a solene determinação fatal. Não importa que por duas vezes ele tivesse feito alusões mais ou menos veladas ao seu intento; era tal a sua calma, tal a serenidade com que pela última vez presidiu a uma reunião de Ministério, examinando com vagar cada sugestão e cada problema levantado, que ninguém suspeitou de seu terrível segredo.
No momento em que escrevo há multidões, em todo o Brasil, chorando a sua morte. Ele, certamente, dispensaria qualquer outra homenagem.
João Café Filho sobe ao poder em um momento de incomparável conturbação da alma e do espírito dos brasileiros. Que ele saiba, que ele possa levar esse pobre e grande Brasil a dias melhores.