Mas, como eu ia dizendo, fui à praia. O dia era de mormaço, abafado e quente, nesse último veranico; e no Arpoador as moças bonitas quando olhavam o céu faziam careta.

As feias também; mas, pobres das feias! Quem repara em suas caretas? Não digo que careta de moça bonita seja bonita; a verdade, entretanto, é que é engraçada; a de Joana, por exemplo, tinha uma graça peculiar, apertando seus olhos e pondo à mostra a parte do lábio superior não atingida pelo batom; havia um certo encanto, feito de intimidade, nesse pormenor; em todo caso valia a careta, e a careta não era permanente; quando ela acabava, sua máscara parecia ainda mais linda sob o louro veneziano dos cabelos arrepanhados atrás em um coque frouxo, à maneira das gregas.

Das gregas ou das romanas? De algumas dessas senhoras que foram pintadas em vasos e paredes, esculpidas em mármores e bronzes no tempo antigo, e até hoje comovem pela sua beleza. Joana, aquela intimidade da mucosa labial, o mormaço, a penugem loura da nuca torrada pelo sol, o arfar das ondas, o peso do ar, tudo compunha um ambiente ligado, havia correspondências latentes entre o maiô azul e a água do mar; essa água, depois vimos, era transparente, e dentro dela, suas pernas ágeis e queimadas tinham refrações estranhas: havia também um peso, uma espécie de pressão excitante nessas águas quase mornas, era tão fácil nadar, passavam pequenos peixes na transparência móvel; espumas...

Creio que os senhores já tomaram banho de mar, e eu perco tempo em descrever coisas banais da vida quotidiana quando seria mais útil que me pusesse a tomar banho no mesmo mar de Joana! Seus ombros acobreados brilhavam no mormaço, a cara ria dos prazeres da água, e nos sentimos talvez um pouco mais amigos, na convivência do Oceano Atlântico; bom, grande, amigo oceano!

Estou usando muitos pontos de exclamação; isso não é meu estilo. Vamos parar por aqui.