Recebo uma carta do capitão Carlos Augusto Melo, que não é do Exército nem da Aeronáutica: é capitão do Tira-Teima Futebol Clube, da praia de Ramos. Ele me pede para defender perante o chefe de polícia essa “instituição da mocidade brasileira”, que é o futebol de praia.
Eu acho mesmo que a pelada deve ser livre. Mas acontece que nossas praias hoje estão muito mais cheias que antigamente, e limitando a proibição para o período entre às 8h30 e às 14 horas a polícia faz coisa sensata. Tanto o futebol como o frescobol dão mesmo alteração, e toda gente, inclusive as crianças, se arrisca a levar uma bola na cara ou uma raquetada na cabeça. O que talvez pudesse ser feito sem inconveniente era permitir esses jogos de segunda a sexta quando não for feriado, em determinados trechos de praia. Aliás, as grandes partidas de futebol na areia sempre foram feitas à tarde; de minha varanda costumo apreciar a turma do “Torino”, do posto 8.
Em Ipanema e Leblon é preciso haver um policiamento para evitar duas classes de pilantras. Uma delas é a dos ladrões. Funcionam principalmente no Arpoador, em dias de semana, quando a praia está pouco cheia. Alguns furtam o que encontram dentro dos automóveis; outros ficam sentados na grama, à espera que uma senhora deixe na areia sua bolsa para cair na água. Passam a mão no que encontram e fogem para as ruas de dentro. Isso acontece muito e é dificílimo pegar o ladrão. Há também os exibicionistas. Vão para a praia vestidos, quando há pouca gente. Quando enxergam uma senhora sozinha ou sem homem ao lado fazem suas exibições. Frequentam principalmente Ipanema, onde a praia é mais larga e tem trechos que da calçada não se visa. Naturalmente as senhoras preferem voltar para casa e como não encontram no momento nenhum policial não fazem queixa, para evitar vexame. Esses homens são fáceis de reconhecer pelo jeito pela atitude. Algumas “canas” leves, com ameaça de processo na reincidência, bastaria: para assustar muito tempo esses doentes.
Deixo aqui essas lembranças ao chefe de polícia, mas não desejo que se encham as praias de “tiras”; a praia ainda é e deve ser sempre um território livre, onde a gente descansa das regras e restrições mesquinhas da cidade; o que pedimos à polícia é uma atuação discreta para que toda gente possa ter sossego nos seus honestos colóquios com o sol e o mar.
Ao prefeito faço uma sugestão: instalar chuveiros (com água, se possível...) em alguns pontos das praias. Seria uma grande gentileza para o povo, esses chuveiros ao ar livre que existem em toda praia da Europa e aqui ninguém ainda se lembrou de colocar. A despesa é bem miúda, e os guardas salva-vidas dos postos tomariam conta.... usariam esses chuveiros. Creio que meu amigo Carlos Augusto Melo, capitão do valoroso Tira- Teima, ficaria contente.