Colombo descobriu a América; eu descobri as Ilhas Altas, ao largo de Copacabana e Ipanema. Pode ser que muita gente, antes de mim, as tenha visto; mas, que eu saiba, nunca ninguém disse nem escreveu nada a respeito. Descobri-as, portanto, por minha conta, pelo meu costume de estar sempre olhando o mar. Tenho várias testemunhas, e citarei Paulo Mendes Campos que nesta primavera já enxergou e já mostrou a outras pessoas minhas belas ilhas.

Para falar a verdade, tenho descoberto muita coisa no mar ― eu, que sou apenas um homem de praia. Em Ipanema descubro jamantas imensas, e já enxerguei, próximo à arrebentação, por duas vezes, indiscutíveis tubarões ― estou falando de tubarões e não de botos traquinas. Mas as Ilhas Altas são minha melhor descoberta. Assim, pois, concito os povos de Copacabana e Ipanema a olhar com assiduidade o mar, com os olhos de quem procura disco voador voando baixinho. Mas antes de encontrar as Ilhas Altas é preciso cada um se familiarizar com a visão das outras, as comuns ― As Tijucas, as Cagarras, a Redonda, a Rasa, a Contunduba e as elevações do outro lado da entrada da barra. Porque acontece que quem não está acostumado a ver, e ver reparando no que vê, essas ilhas banais, que qualquer carta da Marinha registra, não verá as minhas Ilhas Altas. Ou verá mas não achará nada de estranho ― pois não saberá que está vendo ilhas que não existem ou, melhor, que não existem assim como aparecem.

É apenas nos dias de muito sol e mar manso que as tenho visto ― quando no horizonte marinho há uma faixa de ar trêmulo. Então ali se projetam ilhas com penhascos soberbos, altas, nítidas, fabulosas. Têm, como as outras, o violeta sujo das penedias, o verde escuro das árvores, tudo azulado pela distância; mas seus costões são verticais ou reentrantes, convexos, roídos pelas espumas, e se aprumam com uma fidalguia soberba no horizonte ― penhascos de lenda, majestosos, fascinantes. Duram minutos, talvez uma hora, e depois se perdem numa bruma seca, vagamente.

Olhem, pois, meus irmãos, o horizonte marinho. Não perderão nada ― o mar é sempre belo quando brilha ao sol, às vezes pula um peixe de prata, num salto sensacional;  e todos os navios são bons de ver, até a traineira humilde que reboca um barquinho e vai para o sul, o madeireiro chato e lento que vem carregado de pinho. Olhem o mar ― um dia verão minhas Ilhas Altas, e verão que são belas e rudes como o sonho de um antigo pirata. Se não as virem, ainda assim olhem o mar ― porque ele ensina apenas força, pureza e liberdade.

rubem-braga
x
- +