O pintor Olivier vai expor em Belo Horizonte. Comparecerá ao vernissage vestido de Luís XV. Isso mesmo, Luís XV. Isso já me bastaria. Mas o delírio do homem não parou por aí. Oito meninos o acompanharão todos de ‒ afirma a notícia ‒ toga grega. Reparem que não é toga etrusca, nem toga fenícia, é toga grega. Grego não usava toga e sim uma roupa que acabava em “âmbide” ou “âmbida” (ninguém aqui por perto sabe o nome da vestimenta e eu, infelizmente, não tenho tempo para pesquisar. Sei a terminação, o que já é, pelo menos, meia confecção). Toga quem usava eram os romanos. Toga romana, vejam como sai com naturalidade. Biga romana, civilização romana, toga romana: tudo certinho e romano. Mas voltemos ao Olivier de Luís XV e os meninos romanescamente entogados, que eu já estava com saudade deles. Juro que se eu não estivesse tão ocupado teria ido até Belo Horizonte para a inauguração. Já pensou os quadros do Olivier o que não devem ser? E os meninos? Pintam ao menos? E por que Luís XV, toga e grego? Qual é a relação? Olivier, qual é a sua escola? Neo-toguista? Ultra-luisa? Sub-aleivósica? Ou será que você, Olivier, fundou o stop-art? (Um movimento que parasse com toda espécie de arte visual: só feito de vernissages, meninos e habitués. Nas paredes aquela maravilhosa ausência de quadros...).
Boa, Olivier.
*
José Lewgoy está vivendo uma das mais deliciosas experiências que é dada ao ser humano: faz um papel no novo filme do Tarzan, realizado aqui no Rio. Ator é uma raça muito burra, todos querem fazer o Rei Lear, Hamlet, ou ter o nome ligado ao de Brecht ou de um teatro no meio de uma praça. Lewgoy, que é um homem culto e refinado, não vai nessa: sabe que importante é fazer um filme com Tarzan. Pop art das mais legítimas, tão sofisticada quanto um romance de Ronald Firbank. Incomunicabilidade e alienação é fácil com um Walter Hugo Khouri ao lado e Jece Valadão na mesa seguinte, difícil é lidar com Mike Henry e a Cheeta (que, por sinal, passou a chamar-se Bananas).
Mas o Lewgoy vai muito em casa, recebo, inclusive, recados para ele, que transmito com o maior prazer. Outro dia cheguei e havia, em cima da mesa, em letra caprichada, o seguinte bilhete: “Sr. Ivan, ligaram pedindo que o senhor avisasse para o senhor Lewgoy que é para ele estar, hoje, às 8h:00, no escritório do Tarzan. Ass: Dulce”.
Sou grato a todos quantos colaboraram para que esse recado se tornasse na esfuziante realidade que é. Já visualizo Lewgoy entrando no escritório de Tarzan, sem bater é claro, acocorando-se a um lado, Bananas pulando em seu ombro, frutas por todo canto, um cipó amarrado perto da janela (uma beleza de vista para Mombaça). Tarzan cordialmente oferecendo um refresco de coco na própria casca e, só então, os dois, sérios, Tarzan e Lewgoy, começando a tratar de negócios. Tarzan indagando formalmente: Umba niaga? E Lewgoy respondendo, irônico e cauteloso: Ukabulaponga...