Periódico
Jornal do Brasil

Publicada, posteriormente, em O homem nu, Editora do Autor, 1960, com o título "O gordo e o magro".

Há pouco tempo contei a história de um conhecido meu que fez tratamento médico e que de 110 quilos passou a pesar 55. Reduziu-se, pois, à expressão mais simples, ou seja, à metade de si mesmo. O fato é verídico, embora eu não possa por a mão no fogo com relação ao número exato de quilos que o referido cidadão perdeu: não o pesei antes, nem depois. Mas o conhecia gordíssimo e um dia o encontrei todo lépido na rua do Ouvidor, conservando ainda alguns gestos de gordo – e aquela gorda gargalhada – embora mais magro do que eu, que em matéria de peso ainda não sou lá essas coisas.

Pois muito bem – contei a sua história e agora estou recebendo cartas e telefonemas de tudo quanto é gordo deste país, pedindo o nome do médico que emagreceu o outro. Já não me lembro – e minha situação é um pouco penosa, pois, não tendo revelado o nome do cliente, com medo de que ele se queimasse, agora não creio que nossas relações se façam numa base de intimidade suficiente para interpelá-lo sobre o tratamento a que se submeteu – e muito menos mandar que os leitores o procurem diretamente. De modo que faço ao próprio aqui, de público, um apelo: se por acaso me lê, e se a história de seu emagrecimento, contada por mim (aliás com a devida e necessária discrição), não chegou a melindrá-lo, mande-me o nome do tal médico para que eu fique de uma vez por todas livre dos gordos desta praça. Quanto ao médico em questão, se porventura ficar a par dessas pragmáticas, como diz o outro, esteja certo de que nada me ficará a dever pela imensa e volumosa clientela que está em vias de invadir seu consultório.

Isso posto, passo ao assunto mais gordo do dia, que, por mais se busque outro, vem a ser mesmo Jânio Quadros. Ainda ontem ouvi de um político – e político respeitável – essa frase de entusiasmo estudantil:

– Pela primeira vez eu vou votar num homem em quem realmente acredito.

Ao que um dos presentes retrucou: 

– Não acredito. 

– Em quem? Nele? 

– Não: em você.

E assim vai passando Jânio Quadros, numa primeira vassourada rápida e agitada pela política nacional, mas também esquivo e insinuante como um aspirador de pó. Ontem disse que não sabe ainda se é candidato... E embarca para o Japão, onde irá meditar na conveniência de indicar seu próprio nome... Se pudesse, iria à lua. Como não pode, contenta-se em ir aprender – dizem também que teria dito – como é que se reconstrói um país depois de um terremoto.

fernando-sabino
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