Um crioulo invocado chamado “De Noite”. Encarregado de obra, tomava posse de cada construção onde trabalhava. O arquiteto e o engenheiro entravam com a estrutura, ele com a carne do edifício. “Minha obra isso... Minha obra aquilo”, os operários riam dele. Domingo, de noite, andava sozinho pela cidade vendo seus edifícios: “Aquele foi em 45, aquele em 52...”. O centro era uma espécie de álbum de recordações seu, folheado com nostalgia e orgulho. 

Odiava dinheiro. Isso é odiava muito dinheiro. Tinha um único medo na vida, ganhar mais de 97 contos de uma só vez. Pedia a Deus que seus cruzeiros viessem de leve e devagar, com constância. Mas nunca, mais de 97 contos. 

“Se com 50 contos eu faço besteira, imagina com um milhão!” 

O mundo é mau, como diz o samba-canção e o “De Noite”, um dia foi infelicitado com um monte de dinheiro, tudo num saco. Ficou o dia inteiro com o saco pela casa, se botasse no colchão o rato roía; se enterrasse no quintal, bicho comia, em banco, ele não acreditava. Olhava para o saco num canto. De vez em quando levantava, ia lá e dava um pontapé no saco. Até que deu um troço nele e ele começou a esfregar o dinheiro no rosto, a jogar para o alto e rir, rir, rir. Pegou um bolo de notas, enfiou no bolso e saiu para ver se arrumava encrenca. 

Entrava no botequim batendo com a mão no volume reconfortante no bolso: 

― Olha aí, o da fiança já tá aqui...

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Hoje é domingo. Já está ele aqui de novo, pontual e redondo, com cara de quem vai à praia e depois ao futebol. Com ele a indecisão: fazer um retrospecto ou traçar planos para a semana? 

Do jeito que as coisas vão, o melhor é não traçar plano nenhum e resumir, com ênfase na mediocridade, a semana que passou. Na semana de 28 de novembro a 5 de dezembro, destacaram-se, pela sua absoluta falta de importância, os seguintes fatos: 

O Botafogo venceu de 11 a O a seleção de Niterói. Quatro gols de Sicupira, cada um menos importante que o outro.

O título de Cidadão Paulista foi outorgado ao ator Procópio Ferreira.

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O General De Gaulle declarou, mais uma vez, que se for reeleito, cumprirá seu mandato de sete anos até o fim.