Gostaria de saber quando é que se começou a dizer salário para todo tipo de remuneração. Profissionais liberais, médicos e advogados, ainda cobram ou recebem honorários. Mas são poucos, porque quase todos hoje são funcionários do Estado ou de autarquias. Mais que liberais, se dizem autônomos. Há os conveniados, uma palavra não dicionarizada. E horrível. Mais brega só “parabenizar”.

Professores, magistrados, militares — todos recebem salário. Ou pelo menos é como sai noticiado. Mesmo aposentados já não têm direito a proventos. São também assalariados. Do Estado ou não, pouco importa. Vencimento é uma palavra cada vez mais rara. Soldo praticamente desapareceu. Ninguém se lembra de que está na palavra soldado.

Até outro dia mesmo, um deputado ou um senador recebia subsídio. Com a pronúncia correta, isto é, o “s” da segunda sílaba soando “ss”, já que não está entre vogais. Ultimamente, corre por aí, até em boca ilustre, um tal de “subzídio”, com “z”. Será influência do inglês? Acho que não. É analfabetismo mesmo.

No meu tempo de repórter parlamentar, nunca escrevi ou li que congressista tinha salário. Senadores e deputados tinham uma parte fixa e uma parte variável, como remuneração. Além da ajuda de custo, no início da sessão legislativa. A presença fazia jus ao jeton. Todos os parlamentares recebiam subsídio. Estava embutida aí a ideia de que o mandato popular não é profissão.

Era ou é representação. O parlamentar podia até abandonar por uns tempos o seu meio de vida, mas era abandono temporário. Aliás, a sessão legislativa não durava o ano inteiro, mesmo se houvesse convocação extraordinária. De repente, depois de 1964, deputado e senador passaram a receber salário. Deputados estaduais e vereadores então, nem se fala.

Nessa transformação semântica vai muito, a meu ver, do aviltamento da representação. Ou da deterioração da imagem do parlamentar. O cidadão se elege e tome salário, vantagens, mordomias. Mal assume, perde a cerimônia e pensa na aposentadoria. Leva com ele a parentela toda. Até papagaio é assessor, com direito a um P.F. por ser verde-amarelo. Há exceções, claro. Mas ninguém mais tem vergonha do vil metal. Tudo é salário. E é um tal de venha-a-nós que Deus me livre.

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