A gente nem precisa olhar o termômetro para saber que o calor está no auge. De uns três ou quatro dias pra cá, o verão perdeu a cerimônia e se instalou pra valer. Você não tem como fugir. Cedinho, o sol bate à sua porta e exige que você saia da toca. Não adianta o ar refrigerado bufando a noite toda. Até o aparelho de refrigeração transpira. E o suor pinga lá fora.

Ai de coisa ou bicho que não se adapte ao calorão num dia assim. Está literalmente frito. O certo é não brigar, nem perder a paciência. Se você reclama e xinga este clima miserável, aí está perdido. Só lhe resta o desespero de suar em bicas. Calma, que o Brasil é nosso. Encarado com jeito, à carioca, o verão é uma festa. Não é só aqui que o termômetro sobe aos 40º. Domingo chegou a 40,2º.

Se você tem à mão um mapa-múndi, ou um globo terrestre, pode correr o dedo pelo nosso meridiano. Nem quero saber qual é. Sei que nesta latitude não há nenhuma cidade que chegue aos pés do Rio. Maravilhas ainda que temporariamente apagadas, é uma senhora cidade. Pode chamar de metrópole, ou até de megalópole, seja para louvar, seja para espinafrar. Grandes cidades há muitas pelo mundo. Calor também não falta. Mas o bom entendimento entre a cidade e o verão, isto é uma prerrogativa 100% carioca.

A natureza favorece essa aliança de amigos e o Rio tira partido da alegre fornalha que o aquece dia e noite. Aqui não pega essa história de que o calor amolece e prostra todas as energias. Ainda agora, metido num engarrafamento de todo tamanho, estive observando o pessoal em torno. O calorão ardente, mas seco, sem mormaço e sem aguaceiro à vista, deixa no ar uma espécie de euforia. Está quente? Tanto melhor. A cidade, excitada, se sente à vontade. E até feliz. 

Dizer que o trabalho não rende é pura peta. Rende, sim. Com tanto sol e tanta luz, não dá pra ficar deprimido ou mal-humorado. Você nem precisa ir à praia. As almas e os corações se dilatam, comunicativos. A rua é um espetáculo. Sombra não está em falta. Qualquer sombrinha vira um oásis. E tem a brisa, que é preciso fazer por merecer. Tal qual carícia de amor. Então viva o verão. E o Carnaval que vem aí. Vem quente, como convém. E se Deus quiser, não vem molhado.

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