A mãe dela é que era minha empregada, uma empregada como precisamos, capaz de resolver coisas por si mesma, altiva, experiente do ofício. Um dia chegou lá em casa com a filha, disse que não podia mais continuar, mas que a filha era de toda a confiança, se eu quisesse... Feia como a necessidade, coitada, com um ar sonâmbulo, vesga, triste, desamparada. Com tédio à providência, aceitei a troca. E a moça começou a servir-me.

O primeiro problema foi o nome dela. A mãe chamava-se Antônia e eu gostava do nome. A filha, mais preta que a mãe, disse que se chamava Djidji. “Não será Cigi?” – perguntamos. Não. “Talvez Dide?” Também não. Era Djidji, pelo menos soava assim, à escandinava. É possível que seja Geeges ou Geedjy. Às vezes, dou comigo pensando se não será CC, dois cês pronunciados à inglesa.

Djidji chega às nove horas e faz o café. Quando acho que o café já deveria estar pronto, vou à cozinha e, para minha surpresa, o café já está pronto e frio. “Por que você não me chamou?” “Uai, o senhor não disse nada. Quer que esquente de novo?” “Quero”. Fico esperando, do contrário o café vai esfriar outra vez. Ela põe o açúcar, levanta a cafeteira com um olhar tímido e me pergunta: “Despeja, Djidji”.

Não faz nada sem me perguntar. Chegou a perguntar-me se podia tomar banho. “Posso ir embora?” “Posso varrer a casa?” “Posso ir lavar a roupa?” “Posso telefonar?” “O senhor podia ligar pra mim?” Às vezes, perco a paciência e respondo-lhe com aspereza. Djidji me olha com seu olhar torto, apavorada como se eu fosse trucidá-la. Nunca vi ninguém mover-se tão devagar, em um passo de filhote de elefante que a direção do circo, apenas para fazer graça, fez desfilar no picadeiro. 

Como cozinheira, é absolutamente ignorante. Se peço dois ovos quentes, daí a pouco ela vai me chamar: “O senhor quer ir na cozinha ver se está bom?” Vou à cozinha, dou uma espiada, digo que não sei, que esse negócio de ovos quentes é assim mesmo. Volto para o escritório e ouço sua voz arrastada, com medo de chegar ao fim da frase: “Acho que agora tá bom porque já rebentou.”

Sua inocência culinária é completa. Djidji põe as coisas no fogo, mas quem cozinha é Deus. “O arroz queimou, o aipim não cozinhou, não sei que houve com esse feijão que não ficou bom, o ovo engrolou e ficou assim.”

Em matéria de imaginação, não tem nenhuma. Às vezes, levanto animado, penso que talvez falte a ela um pouco de apoio moral. Vou à cozinha na esperança de comunicar-lhe um pouco de entusiasmo. “O que vamos comer hoje?”, pergunto sorrindo, alisando uma nota de cem cruzeiros. “Ué, não sei”. “Mas, Djidji, vamos comprar alguma coisa, o que se pode comer hoje?” Ela me olha de relance, abaixa os olhos, olha de novo, abaixa os olhos de novo, e diz: “Ué, o senhor querendo, eu faço arroz.”

Estou ficando subalimentado e triste. Mas não consigo mandar Djidji embora. Djidji está virando o meu demônio familiar, um demônio muito feio, lento, triste, mais triste do que eu.

paulo-mendes-campos
x
- +