Eu estava diante de uma banca de jornais na avenida, quando fui abordado por uma criatura muito pessimista. Era um homem de 50 anos, de roupa suja e esfarrapada. Como estivéssemos a ler títulos de jornais, ele começou por me confessar sua absoluta descrença nos jornalistas, mas perdoava-os, porque precisavam ganhar a vida.
Em seguida, começou a falar mal de todos os governos que teve o Brasil: nenhum deles prestava. De uma desilusão nascem profusas outras desilusões, e ele manifestou sua certeza de que também os nossos governantes futuros serão ruins como os do passado. Reconhecia algumas poucas qualidades nessa ou naquela figura pública, mas isso não quer dizer nada: o problema fundamental está na perversidade do homem. A natureza humana sendo de má qualidade, nunca poderá existir um bom governo. “A humanidade — continuou — é insincera e muito pretensiosa. O homem mais sincero e modesto que já existiu foi Cristo, e esse o senhor sabe o que aconteceu com ele”.
Voltando a dar exemplos de homens mais ou menos direitos, referiu-se a Stalin e a seu próprio pai: advertiu, no entanto, que, em ambos os casos, as virtudes acabaram sendo sufocadas pela maldade natural à espécie humana.
(Eu estava exatamente esperando um intelectual para fazer uma entrevista sobre a crise do mundo moderno).
Suspeitando de que eu talvez ainda não estivesse convencido de sua teoria, começou a demonstrar para mim que ele também era ordinário como toda gente: “Se sou pobre, sofro mais, mas isso não quer dizer que eu seja melhor do que os ricos”.
Por fim, olhou para mim e disse:
— O senhor vai me desculpar, mas o senhor também não presta.
*
A moça me explicou porque não quer mais saber do “rapaz mais bonito do Rio”: estava há muito tempo dando “bola” para ele, “bolas” até um pouco humilhantes para uma jovem tão solicitada quanto ela. O moço, com uma timidez antiga, nunca se animava a vir falar com ela. “Os dias, na esperança de um só dia, passavam, contentando-se com vê-lo”.
Domingo passado, ela vinha pela rua; ele estava na esquina e veio também se aproximando a seu encontro. Ela pensava feliz: “Até que enfim, seu boboca!” O rapaz chegou perto dela, vermelho, sem jeito e exclamou com um forte sotaque dos pampas:
— De verde, hein!
E ela, para nós, desconsolada:
— Ainda por cima, eu estava de azul.