1 dez 1951

O fato é absolutamente autêntico...

O fato é absolutamente autêntico. A tratar de um negócio imobiliário estavam a conversar um jornalista, um construtor português e um advogado. Fechado o negócio, passaram a falar sobre mulher que mata marido. Disse o advogado: “Tenho um revólver em casa. Minha mulher é um anjo mas, por via das dúvidas, quando vou dormir, ponho o revólver dentro de uma caixa, passo a chave, ponho a caixa dentro de um armário, passo a chave, fecho meu escritório e escondo as chaves”.

O jornalista, amigo do advogado, exprobou-lhe esse estranho e desconfiado procedimento. Foi aí que falou o construtor português:

Não, sinhoire. O doutoire aqui tem abs’luta razão. Do jeito que as coisas vão indo, não se pode confiaire em mulher nenhuma. Sou casado há muitos anos e não tenho nenhum problema. Mas desde que começou essa onda de matar marido, durmo com uma barra de ferro debaixo do travessairo. AO PRIMEIRO MOVIMENTO SUSPAITO QUE FIZER MINHA PATROA, EU LHE ESMIGALHO O CRÂNIO. EU LHE ESMIGALHO O CRÂNIO!

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O sr. Francisco Campos entrou outro dia em uma livraria da cidade, examinou os livros demoradamente. Ao sair, perguntou ao gerente:

– Por que o senhor não abre uma livraria?

E ante o espanto do homem:

– O sr. vê: o senhor já tem essa loja; este ponto aqui é ótimo para uma livraria; o senhor já tem as prateleiras; se o senhor quiser, eu arranjo um caminhão, o senhor desentulha as prateleiras dessas porcarias e abre uma livraria. Nada mais fácil.

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O funcionário de uma revista foi ao gerente, disse que a mulher estava doente, se ele não podia arranjar um vale de quinhentos cruzeiros. O gerente informou que todos os vales estavam suspensos. O funcionário alegou que faltavam apenas quatro dias para o pagamento, o prazo era curto. E o gerente:

– Lamento muito, mas não posso. Já fui uma vez nessa mesma conversa: dei um mês adiantado a um colega seu que estava com a mulher passando mal... e você sabe o que ele fez?

– Não senhor. 

– Morreu atropelado! 

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Divórcio nos Estados Unidos: quando o marido voltou à casa, depois de uma longa viagem, verificou que a mulher tinha ensinado a seu papagaio de estimação o seguinte cumprimento: “Alô, bestalhão!” 

Traduzimos aqui o que o humorista americano James Thurber pensa sobre os humoristas:

“A ideia de que essas pessoas são alegres de coração e prazenteiras é estranhamente mentirosa. Eles levam, na verdade, uma existência de saltos e apreensões. Eles se sentam na beiradinha da cadeira de Literatura. Na casa da Vida têm eles a sensação de quem nunca tira o sobretudo. Receosos de se perderem no voo maior do romance em dois volumes, eles se limitam a encurtar as histórias de suas desventuras, porque nunca se afundam nelas, porque sentem que delas podem sair. Esse modo de escrever não é uma forma alegre de exprimir-se, mas a manifestação de um prurido ao mesmo tempo cósmico e mundano. Os autores de coisas assim têm, ninguém sabe porque, uma vocação especial para se meterem em pequenas dificuldades: entram em apartamentos alheios, bebem óleo para móveis como remédio de azia, passam com o automóvel sobre o rico canteiro de tulipas do violento vizinho, dão tapas de brincadeira em gangsters, confundindo-os com antigos colegas de colégio. Chamar a essas pessoas de “humoristas”, um nome feio, que não assenta bem, é desconhecer a natureza do seu dilema e o dilema de sua natureza. As rodinhas de seu engenho são postas em movimento pela mão úmida da melancolia”.

paulo-mendes-campos
As crônicas aqui reproduzidas podem veicular representações negativas e estereótipos da época em que foram escritas. Acreditamos, no entanto, na importância de publicá-las: por retratarem o comportamento e os costumes de outro tempo, contribuem para o relevante debate em torno de inclusão social e diversidade.
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