Aires da Mata Machado escreveu há poucas semanas em O Diário, de Belo Horizonte, uma justa crônica em que reclama a ausência de pratos mineiros nos hotéis e restaurantes de Minas. E fala com ternura no feijão com farinha, no angu, na carne de porco, no tutu com linguiça, no leitão assado, no frango ao molho pardo, no lombo de porco, no feijão pagão, no torresmo com farinha...

E há mais, há mais.... Há o mexido, o quiabo, o bolinho de feijão, o lombo com farofa, o milho verde, o Maneco sem jaleco, que é um sublime mingau de fubá bem cozido com couve bem rasgada, há o pé de moleque, há os imensos e claros domingos bem mineiros, em que somos convidados para almoçar na casa de um parente ou de um amigo. E nesse domingo lavado e azul, enquanto as mulheres foram para a missa, os homens ficam na varanda conversando política municipal, ou qualquer outra bobagem, traçando uma cervejinha geladíssima. E, enquanto se conversa, sente-se o perfume antigo do torresmo, e a cozinheira vem até à varanda trazendo uns pastéis quentes pra gente disfarçar a fome... E a mesa posta é um primor... E a toalha de linho, bordada com inacreditável paciência, é um primor... Bebe-se antes uma cachacinha especial para abrir um apetite já escancarado. Na copa está a mesa das crianças. Na cabeceira da mesa de adultos a avó da casa, que come infantilmente um pouco de tudo; e vai sentar-se depois em uma cadeira de balanço de palhinha. E come-se, come-se mais ou menos tudo aquilo que ficou supracitado. E depois que se come em um domingo assim, de um sol assim, costumam passar muitos anos. E os grandes almoços de antigamente se transformam muitos anos depois em uma saudade meio indigesta.

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