Mineiro nunca se acostuma inteiramente às instalações de gás. Há algum tempo, ao ligar o gás de nosso banheiro, ouvimos um ruído agudo, que se prolongava. Fechei-o imediatamente e telefonei a um bombeiro. O homem veio com suas ferramentas, demorou-se uns 15 minutos no banheiro, e veio dizer-nos:
— O conserto fica em 800 cruzeiros. Tenho que desmontar tudo.
E soltou em cima de nós umas palavras técnicas.
Desconfiado também dos sujeitos que mexem com gás, dispensei o serviço e falei com o proprietário do apartamento. Ele se prontificou a comunicar o defeito à companhia que lhe vendera o aparelho.
No dia seguinte, apareceu o empregado da companhia. Ligou gás, veio o mesmo ruído, que durou três minutos, e desapareceu.
— Está pronto.
— Mas como?
— Seu aparelho de gás está em perfeitas condições.
— E o ruído?
— Não é nada. Um cisco que devia estar no cano.
— Pois o bombeiro que veio aqui disse que o concerto ficava em 800 cruzeiros.
— Ladrão, disse o homem com secura.
Ladrões também, disse-me um técnico de televisão a quem contei essa história, são quase todos os meus colegas. E deu-me exemplos. Disse-me que ainda há poucos dias um seu companheiro de ofício fora chamado para desenguiçar um aparelho de televisão.
— O senhor sabe quanto ele cobrou? 500 cruzeiros.
— Talvez não fosse caro de acordo com a natureza do conserto.
— Não havia conserto a fazer. A empregada, na hora da limpeza, afastara o aparelho e colocara depois a tomada ao contrário.
Esse mesmo técnico revelou-me um outro tipo de roubo que os seus colegas vêm fazendo ultimamente com o maior cinismo. Sabedores de que dentro de algum tempo um novo canal será inaugurado no Rio de Janeiro, quando chamados a rever o aparelho de qualquer pessoa, retiram do mesmo justamente um carvão sem o qual aquele canal não pode ser sintonizado. Naturalmente, ao ser inaugurado o canal, o dono do aparelho achará justo o alto preço que lhe pedirá o técnico para pôr a sua televisão em perfeito estado.
E viva-se em um clima assim.