Margarida Lemounier escreve-nos graciosa carta, citando trechos de um livro inglês (Como se fazer amar) traduzido para o português, perguntando-nos se eles servem para a seção. Servem.

Esta passagem é do capítulo “Como beijar com delicadeza”:

“O homem deve ser mais alto do que a mulher que deseja beijar. Ponha a mão direita dela na sua e puxe-a suavemente para si. Passe a mão esquerda pelo seu ombro direito, pelas costas dela até abaixo do seu braço esquerdo. Aperte-a de encontro ao peito. A essa altura, ela inclina a cabeça para trás; você nada mais precisa fazer que se abaixar um pouco para a frente e comprimir os lábios nos dela e a coisa está feita.

Não faça barulho ao dar o beijo, como se estivesse puxando uma bala de estalo, nem pareça sôfrego como um gavião faminto, mas abrace a garota com delicadeza, sem lhe amassar a gola do vestido, não lhe intercepte a visão, porém com suave pressão sobre sua boca delicie-se nessa felicidade, não lhe esmagando os lábios, tal um fauno em plena bacanal, mas como se sugasse o mel dos lábios de Afrodite”.

*

O livro insiste no tema, abrindo-lhe um novo capítulo, intitulado “A arte de beijar”:

“As pessoas se beijam, mas não há uma só, em mil, que saiba beijar bem, da mesma forma que não sabe distinguir um brilhante de um pedaço de vidro. Em primeiro lugar, é preciso saber quem você vai beijar. Não cometa um engano, ainda que às vezes um engano seja bom... Não pule como um tigre sobre a presa, machucando o pescoço ou as orelhas da moça, a testa ou o nariz, na sofreguidão do momento. O homem deve estar bem barbeado, o olhar deve ser meigo, a boca expressiva. Bastam duas pessoas para discretamente trocar um beijo: mais gente estraga a festa. Tenha coragem: depois que você estiver habituado não será mais difícil. Pegue com a sua mão direita a mão esquerda; se estiver de chapéu, dê um jeito de fazê-lo desaparecer. Deslize a mão esquerda pelo ombro dela com delicadeza, até alçar-lhe a cintura. Não tenha pressa; puxe-a suave, amorosamente para junto de seu coração. A cabeça dela repousará sobre o seu ombro ― e que bom ninho ele pode ser! Não tenha pressa, deixe que seu braço esquerdo transmita-lhe um pouco de sua força; aperte delicadamente a mão esquerda dela que está dentro da sua direita, não como uma torquês, mas com amorosa firmeza, com um misto de respeito e paixão. Não tenha pressa. A cabeça dela repousa no seu ombro. Seus corações batem juntos um do outro. Baixe os olhos para os dela, que estão semicerrados. Suave, mas energicamente, aperte-a de encontro a seu peito. Ânimo para a prova final. Seja corajoso, porém não se apresse. Ela tem os lábios quase abertos. Incline a cabeça ― não o corpo ― ligeiramente para a frente, não erre o alvo: os lábios se encontram, os olhos se fecham, os corações se abrem, as almas vencem as tempestades, os aborrecimentos e desgostos da vida (não tenha pressa!), você está às portas do céu, o mundo desaparece como um meteoro que risca o céu da noite (não tenha medo!), os nervos vibram no altar do amor, como, o zéfiro perpassando pelas corolas orvalhadas, o coração esquece ressentimentos e aprende-se a arte de beijar. Não é preciso barulho, nem confusão ou correria. Beijar não dói; não exige uma aliança para fazê-lo legal. Não se precipite sobre uma bela boca como se ela fosse o seu telefone. Não agarre e puxe a moça como se ela fosse um cavalo indócil. Não desmanche o seu penteado, não amarrote sua gola, não morda seu rosto, nem a faça ficar com a roupa amarfanhada e em desordem. Que o seu beijo não saiba a cebola, fumo, álcool, etc.”.

paulo-mendes-campos
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