Deu-se que na semana anterior eu havia entrado naquele pequeno boteco da estrada de Correias e comprado um pacote de cigarros. Dez carteiras. Comprei, paguei, saí. Não cheguei a notar nem de leve que o meu gesto me fizera conhecido.

Dias depois, volto ao botequim. A mocinha, provavelmente filha do vendeiro, e na qual eu ainda não tinha reparado, atendeu-me.

― Um pacote de cigarro Turcos.

Embaraçada, ela disse: 

― Um momento.

E retirou-se para o fundo da venda, onde permaneceu mais de cinco minutos. Voltou acompanhada de uma senhora gorda, que se dirigiu imediatamente a mim:

― O senhor vai desculpar-nos... 

― Não há Turcos?

Há. Mas só temos seis maços. O doutor se incomodaria se ficasse apenas com quatro maços? Temos um outro freguês que gosta da marca.

― Não tem importância. Eu fico com os quatro maços.

― Muito obrigado, doutor.

A moça apanhou os quatro maços e os embrulhou a capricho. Outros fregueses esperavam com paciência que terminasse a minha transação. A senhora retirou-se e voltou daí a pouco, trazendo um lápis na mão, dizendo para a filha:

― Faça a conta. Olha: quatro maços a quatro cruzeiros e trinta centavos cada um. Quatro vezes quatro, quarenta ...

― Quarenta, mãe? 

― Vinte!

―E é a senhora que ainda me manda fazer a conta! ... Quatro vezes quatro, dezesseis, mãe.

― É justamente por isso que é sempre bom não confiar na cabeça. Faça a conta.

A mocinha buscou um papel e fez a multiplicação. Verificou-a minuciosamente, e disse com orgulho:

― São exatamente dezessete cruzeiros e vinte centavos.

Lembrei-me que minha caixa de fósforos estava no fim.

― Ah, por favor, duas caixas de fósforos.

Ela voltou ao lápis, ao papel, e somou mais sessenta centavos. Paguei, recebi o troco e saí. E soprava uma brisa europeia naquelas paragens do nosso Brasil brasileiro.

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