A história nos foi comunicada por um amigo: um cavalheiro de suas relações, homem de 60 anos, pessoa muito grave e proba, e que nos anos anteriores subia a serra quando chegava o carnaval, este ano deixou-se ficar por aqui mesmo e foi aos bailes em companhia de sua esposa. Contou que estava no baile do Municipal, quando apareceu uma jovem senhora, morena, bonita, pernas bem-feitas à mostra, e que subiu à sua mesa e saracoteou várias músicas. E como por fim ela estivesse fatigada, ele a convidou polidamente para tomar qualquer coisa, ela aceitou. Depois, veio até à mesa um rapaz, marido da jovem senhora, e os quatro confraternizaram e dançaram até de manhã.
— No ano que vem, arrematou gravemente o cavalheiro. Vou arranjar 600 contos para o carnaval.
Seiscentos contos é um absurdo, disse meu amigo. Ninguém pode gastar 200 contos por dia no carnaval.
— Mas não é bem isso, ele respondeu. Quinhentos contos são para mandar minha mulher para a Europa. E cem contos para eu gastar no carnaval.
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— Tínhamos que ir ao aeroporto, hora marcada, embarcar uma pessoa da família. Telefonamos ao posto de táxi do Bar 20.
— Podia mandar um táxi aqui rua tal número tal.
— É para ir aonde?
— Para a cidade.
— Pois não, já vai.
Esperamos, o táxi não veio. Tentamos a praça Nossa Senhora da Paz. Ninguém atendeu ao telefone. Ligamos, em seguida, para a praça General Osório.
— Podia mandar um táxi aqui na rua tal número tal.
— Mas o senhor tem outros pontos de táxi mais perto de sua casa, raciocinou o motorista.
— Eu sei, meu amigo, mas nesses pontos não encontrei táxi.
— Ah, mas eu posso ir aí e o senhor já ter ido embora.
— Por que o senhor não toma nota de meu telefone para pedir confirmação?
— Não é preciso, daqui a poucos minutos estarei aí.
— O senhor não deixe de vir, ou diga logo, porque senão acabo perdendo o avião.
— Não há perigo, cavalheiro.
Não veio.
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Conhecido nosso diz que só há uma tradução possível para o romance Gone with the wind (E o vento levou) para a língua do Brasil: Vai levando.