Hoje, um dicionário mínimo de ideias do escritor André Gide:

AUTOR — “Nada impedia a este livro (Fanny, de Feydeau) de ser um belo livro senão o autor”.

BURGUÊS — “Os burgueses honestos não compreendem que é possível ser honesto diferente deles”.

CONVERSAÇÃO — “Quando me escuto a conversar, sinto vontade de fazer-me trapista”.

DOSTOIEVSKI — “Admiro Dostoievski mais do que acreditava ser possível admirar”.

ESCRÚPULO — “Bastam-nos os escrúpulos para impedir-nos a felicidade”.

FELICIDADE — “Algumas almas permanecem particularmente refratárias à felicidade, ineptas, desajeitadas”.

GUERRA — “O que ameaça a cultura é a guerra a que, fatalmente forçosamente, os nacionalismos odiosos conduzirão”.

HOMEM — “Não amo os homens; amo aquilo que os devora”.

INTELIGÊNCIA — “A maior inteligência é justamente aquela que mais sofre com os seus limites”.

ITÁLIA – “É o país do mundo que eu prefiro”.

JUSTIÇA — “Por ter sido jurado na Corte, não creio muito na Justiça”.

LITERATICE — “É com belos sentimentos que se faz má literatura”.

MISTÉRIO — “Lembro-me, quando era menino, de minha tristeza quando, pela primeira vez, atingi a extremidade do Bosque de Roque, e compreendi que não mais me perderia nele”.

OBRA-PRIMA — “O que faz uma obra-prima é uma adequação ou emparelhamento feliz entre o assunto e o autor”.

PALAVRAS — “Para as palavras, também para elas, creio muito nas virtudes das más companhias”.

PAPINI — “Um pouco petulante demais, menos, no entanto, do que os outros italianos que conheço. Como todos os italianos que conheço, acredita demais na sua importância”.

PROPRIETÁRIO — “Só o simples nome de proprietário já me parece ridículo e odioso”.

RACINE — “Amei os versos de Racine acima de todas as produções literárias”.

ROMA — “Decididamente não gosto de Roma”.

SABEDORIA — “O homem sábio vive sem moral, segundo sua sabedoria”.

TOLICE — “O número de tolices que uma pessoa inteligente pode dizer em um dia é inacreditável”.

VELHICE — “Quando eu parar de indignar-me terei começado a envelhecer”.

VERGONHA — “A leitura de Rimbaud e do IV Canto de Maldoror me faz sentir vergonha de minhas obras e de ter desgosto por tudo que é apenas um resultado de cultura”.

paulo-mendes-campos
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