As edições do Cahiers du Sud publicaram recentemente um livro de homenagem a Paul Valéry. Não há nada de novo nesta coletânea, que se ressente de todos os defeitos peculiares às publicações do gênero, artigos superficiais e meramente afetivos. Entretanto, podemos ver em Paul Valéry vivant o apreço ao último representante de uma família intelectual que agora desaparece! Sempre haverá poetas na Europa, sempre haverá pensadores agudos, sempre haverá filósofos e romancistas. Torna-se cada dia mais improvável, porém, a sobrevivência do literato.
Paul Valéry era um literato.
A palavra é rebarbativa. Dela costumamos nos servir para insultos, às vezes amáveis. Mas é preciso distinguir... É preciso descobrir na inumanidade da literatura sem pretextos o esforço singular do homem: o trabalho do espírito.
A França foi um país de literatos. Grécia e Roma foram regiões que os literatos tornaram únicas na história. E se levarmos às suas últimas consequências a palavra literato, nós a identificaremos ao trabalho intelectual contra o qual o tempo não prevalece.
Hoje o literato não é apenas combatido: tornou-se impossível, praticamente impossível em um mundo 100 por cento jornalístico. Já não existem horas lentas, todas elas correm apressadas, sôfregas. Racine, em nosso tempo, seria ainda um grande escritor, mas não seria um grande literato. Já não há tempo para escrever bonito.
Paul Valéry foi o último exemplar dos que se obstinaram em escrever bonito, em extrair da linguagem um poder fabuloso. Resistiu às solicitações do homem que havia nele, sacrificou este homem ao literato.
Bem sei que sacrifícios de tal sorte já não são compreendidos, que a época é do homem. Mas, justamente, se houvesse a compreensão não haveria o fenômeno. E não estaríamos aqui, apressadamente, lamentando na morte de Paul Valéry, o desaparecimento de um literato consciente.