Vimos uma vez em uma revista estrangeira um ensaio sobre uma filosofia do silêncio. Vimos apenas, não o lemos. Aquele título, porém, permaneceu simpaticamente em nossa memória.

De fato, muita literatura se poderia fazer em torno do silêncio. De uma concepção generalizada sobre o silêncio, em que se remontaria à quietude cinematográfica que, de certo, reinava quando o espírito de Deus era levado sobre as águas, esmiuçando cronologicamente os pensadores, desde o grande precursor, Buda, até este poseur talentoso que é Charles Morgan, o escritor que enfrentasse o tema, além deste “show” de cultura e elevação de sentimentos, poderia ainda brilhar para os temperamentos práticos, apresentando pragmáticas conclusões sobre o silêncio. Estas conclusões poderiam referir-se, por exemplo, às diversas depressões nervosas ocasionadas pelo ruído da vida moderna, indicando o autor, outrossim, as várias maneiras de diminuir o barulho numa grande cidade.

Mas não é este o único modo de observar o silêncio. Há o silêncio das pessoas que se amam, matéria poética, há o silêncio do vácuo, poesia da física, há o silêncio das velhas fotografias. Há igrejas antigas em que o silêncio, além de ser uma obrigação litúrgica, é positivamente agressivo por si mesmo, há certas faces particularmente silenciosas, há paisagens caladas, incomunicáveis. Há, sobretudo, o silêncio dos mortos. Não sou muito amigo dos mortos. Os mortos não se confessam nunca. Resistem, obstinados, a essa vontade de falar, se é que tal enfermidade humana permanece além da imobilidade cardíaca. Monstros de discrição, incômodos e fechados, insistem eles num silêncio que ora dói, ora atemoriza, e raramente conforta. É verdade, às vezes costumam voltar a este mundo, fato bastante para levar um professor de pessimismo a concluir pelas condições insuficientes do outro. Mas, nessas ocasiões, somos forçados a reconhecer que nenhum impulso de ajuda sobrenatural os trouxeram. Em geral, os limitados interesses terrenos motivaram esta viagem da eternidade para o tempo. Quando mortos, num caixão, os poucos que vi, era tranquilidade o que havia no rosto branco. Quando os espiei, imóveis, inabordáveis, esquisitos, sem invejar-lhes propriamente a paz dos semblantes, deixei que os meus olhos puxassem a minha alma pra fora, na aventura improvável de arrancar-lhes o segredo. Não falam, são reis do silêncio, monstros do silêncio.

De qualquer forma, o silêncio é um assunto excepcional. O único aspecto, porém, que me encanta, é aquele de que falava Remy de Gourmont, a vocação do silêncio, a vontade de calar a boca, de não dizer mais nada publicamente, de recolher-se da vida literária a uma outra vida menos pública e provavelmente mais forte.

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Augusto Meier, um dos prosadores conscienciosos da nossa literatura, além de grande poeta, concluiu um novo livro: Segredos da infância.

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De Mark Twain, um dos grandes humoristas, a José Olímpio lançará a conhecida autobiografia.

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Na “Coleção Tucano”, aparecerá breve Os poemas traduzidos de Manuel Bandeira, editados anteriormente em edição de luxo.

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O poeta e romancista Georges Duhamel foi recebido na Academia Francesa, no lugar de Abel Bonnard que, em bora ainda vivo foi afastado desta sociedade por colaboração com Vichi.

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A Agir Editora, dá-nos mais uma boa tradução de um livro sério e atual Princípios políticos, de Jacques Maritain, o grande pensador francês de nossa época.

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Ledo Ivo, depois de Ode e elegia, já tem pronto um novo volume de poemas, a ser publicado breve.

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