Um homem triste, magro e maduro, está na calçada, e sua jovem e linda amada está na praia, está no mar. Vestido de escuro, com sapatos pretos, ele não ousa descer à areia; sentir-se-ia ridículo como um corvo, entre a clara e moça gente descalça e desnuda que salta atrás da peteca ou da bola, que avança para receber no peito o baque da onda — ou que apenas, de olhos semicerrados, fica deitada ao sol.

Passa um menino vendendo laranjas, e ele está com sede, mas não ousa comprar uma; sua namorada pode vê-lo, e então ele ficaria sem jeito por estar chupando uma laranja, assim na calçada — afinal de contas na rua — vestido como um senhor que anda na rua.

Entretanto a moça não o vê; está sentada na areia, lá longe, conversando com a prima; de vez em quando apanha um punhado de areia, depois a deixa escoar entre os dedos enquanto fala; às vezes ri devagarinho, ou move a cabeça. Que estará dizendo? Uma suspeita péssima invade, lentamente, o peito do homem vestido de escuro, de sapato preto: ela está falando dele com a prima, caçoando de seu amor de homem casado por moça solteira, de seus galanteios meio antiquados, de sua tristeza, de sua angústia. Talvez esteja dizendo: “aquele velho bobo”: entretanto, a diferença é apenas de 11 anos, vamos dizer, 12, mas vamos e venhamos, não é diferença tão grande assim de homem para mulher. O pior é que ele se sente perfeitamente moço, apenas o que lhe dá sensação de velhice é exatamente aquele seu amor por aquela moça, aquela moça com seu jeito mais solto e tão engraçado, meio absurdo de dizer e fazer as coisas, sim, bem diferente das moças de Curitiba há dez anos atrás, pensa o homem.

“Ela acha graça no que eu acho tolo, acha tolo o que eu acho grave”, pensa ele, sentindo calor nos pés apertados dentro dos sapatos pretos, sentindo calor na cabeça onde a calvície começa a marchar para trás.

Por que não veio de calção? Teve pudor de seu corpo muito branco entre aquela gente queimada de sol; deveria vir à praia sozinho alguns dias para depois encontrá-la, mas talvez nem a isso se animasse, sentindo-se quase ridículo, em sua magreza, diante de tantos rapazes atletas de tórax triangular. Ela naturalmente haveria de preferir um desses moços fortes e idiotas. Por que idiotas? — perguntou a si mesmo o homem de roupa bem escura, depois de pensar essa palavra. Em princípio não tinha o direito de julgar aqueles rapazes idiotas; era simples despeito.

De repente sentiu que o calor estava ficando insuportável, e sua tristeza muito pungente; era doloroso estar ali olhando de longe aquela moça de maiô azul que conversava com a outra sem pensar nele, e que talvez risse se o avistasse, risse de sua figura escura, magra, lamentável. Ia passando um táxi, ele deu um grito, o carro parou. Deu o endereço de casa, encontrou a mulher ralhando com uma criança, entrou tirando o paletó: 

— Hoje está um calor danado.

rubem-braga
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